quarta-feira, 15 de junho de 2016

Três intervenções sobre os autismos


Por ocasião do X Congresso da AMP, na Assembleia Geral do dia 29 de abril de 2016, foi realizada a Grande Conversação da Escola Una. Uma das mesas abordou o tema dos autismos e recolhemos aqui as intervenções de três colegas da EBP/AMP:


Heloisa Teles
Gostaria de retomar o que Wilma Coccoz nos propõe em seu relatório: Que, “na atualidade, a batalha pela psicanálise toma o nome de autismo”. Um fato parece elucidar isto: em 2012, cerca de cem instituições de psicanálise do Brasil, das mais variadas orientações, se reuniram em um movimento que nasceu em decorrência de dois acontecimentos: a possibilidade de fechamento de um serviço universitário público orientado pela psicanálise e uma medida do governo do Estado de São Paulo que restringia, em licitação, o atendimento aos autistas ao método das TCCs. Este movimento tem o nome MPASP: Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública e, em sua essência, se constitui em uma luta pelo direito à diversidade, pelo direito de escolha do atendimento e pela defesa da psicanálise. Participar deste Movimento, ao lado de outras orientações em psicanálise, tem sido um aprendizado, sobretudo por permitir ver os efeitos que a orientação lacaniana pode produzir. Neste sentido, cabe destacar os efeitos produzidos pelos filmes “A céu aberto” e “Outras vozes” (que foi lançado no Brasil em 2015, no Rio, em uma Jornada do MPASP), projetados em todo o Brasil por uma iniciativa da EBP. Concluindo, penso que a nossa batalha pela Psicanálise, que tem a batalha do autismo como paradigma, é e deve seguir sendo permanente.

Ana Martha Wilson Maia
Minha intervenção parte do que disse Domenico Cosenza: "o analista não pode se identificar ao sujeito suposto saber".
Já há algum tempo, tenho participado deste Movimento a que Heloisa se referiu, o MPASP. Há dois anos estou no Grupo Gestor, o que vem me possibilitando ampliar a visão de um contexto político articulado à clínica, com diferentes abordagens. Iniciamos como uma resposta aos dois acontecimentos, como contou Heloisa, e de lá para cá temos trabalhado também em torno de outros temas que se referem aos autismos, mesmo que de forma menos direta, como por exemplo a Maioridade Penal, o Marco da Primeira Infância, entre outros.
Assim, na direção do que Cosenza colocou sobre o analista e o saber, digo que a "batalha do autismo" (na expressão de Laurent) é uma batalha com relação às políticas públicas governamentais e tudo o que isto implica. É uma batalha no trabalho com os pais como parceiros, inclusive esvaziando a ideia de que são culpados pelo autismo do filho. É uma batalha com relação aos métodos de aprendizagem, como o ABA, que impõem um saber prévio ao sujeito autista, não abrindo espaço para o que chamamos de "tratamento sob medida". E acrescento, também, a batalha para diferenciar a psicanálise das psicoterapias que, embora se utilizem de significantes que fazem parte da orientação lacaniana (como exemplo, "prática entre vários") propõem avaliações e métodos para o tratamento de maneira muito parecida com as TCCs, quando apostam na prevenção e no trabalho pela via da maternagem.


Paula Pimenta

Gostaria de ressaltar a importância das trocas sobre nosso trabalho de "formiguinhas" nas atividades externas de que participamos e os efeitos observados. Demarco também a importância de se afirmar que partimos de bases epistemológicas diferentes quanto à TCC, por exemplo, o que faz ressalvas quanto a comparações ponto a ponto. (Participo com alguma frequência de mesas redondas com colegas TCCs e vejo que a psicanálise é mais escutada quando se apresenta assim. Tenho até uma tabela comparativa que criei para elucidar esse item). É importante nos servirmos da aceitação "científica" da Affinity Therapy para nos apresentarmos com uma prática (anterior) na mesma direção de escuta do sujeito e seu interesse original (= seu trabalho de regulação do Outro).

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