quinta-feira, 21 de junho de 2018

UM DIA DEDICADO AO AUTISMO NA EBP- SEÇÃO PE

No Recife, Seção Pernambuco da Escola Brasileira de Psicanálise, o dia 16 de junho foi um dia dedicado ao autismo.

Pela manhã, tivemos a transmissão do curso: A especificidade do autismo : o que a clínica nos ensina, com a preciosa participação de nossas colegas Paula Pimenta e Tânia Abreu. Elas apresentaram um seminário intitulado: “O que pensa a psicanálise sobre protocolos e medicamentos para o autismo”. Paula Pimenta com uma pesquisa consistente sobre os protocolos, falou sobre os principais protocolos de avaliação utilizados para detecção do autismo, colocando a posição da psicanálise frente a eles, ou seja, destacando que “a psicanálise se mostra atenta e cautelosa quanto aos efeitos de nomeações sobre o sujeito. No caso do autismo também sobre os pais. A psicanálise aposta em uma construção de sentido dessa nomeação com os mesmos, sem perder de vista o filho diante deles, que é sempre mais que a nomeação recebida”. Tânia Abreu sustentada na clínica, falou sobre a diferença entre a medicação e medicalização das crianças, esclarecendo que a psicanálise não se opõe à medicação mas ao uso indiscriminado da mesma. O uso abusivo da medicação patologiza a infância e atende interesses da indústria farmacêutica. A medicação para a psicanálise precisa ser pensada para cada criança quando assim se fizer necessário. A oposição da psicanálise é ao uso indiscriminado da medicação para todas as crianças mesmo quando os remédios não se fazem necessários, estando apenas a serviço de calar o sujeito que poderá por seu sintoma se manifestar. Ressalta Tânia Abreu: “No tocante aos quadros de Autismo, não há uma medicação única para tratar os autismos, e sim medicamentos para as comorbidades, muitas vezes necessários, como nos recorda Temple Grandin, ao falar sobre o Tofranil em seu livro Uma menina Estranha. Concluiu advertindo que a cada um sua medicação que não funciona sem a presença de pessoas amorosas”.

No período da tarde, contamos com a presença de Sérgio Laia, psicanalista , AE, Analista da Escola no período 2017 - 2020 e AME, Analista Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise. Ele fez uma conferência cujo título foi: Sexualidade e autismo : o que nos ensina Jerry Newport. Sérgio falou da sua pesquisa realizada a partir de autobiografias de 20 autistas, e que têm lhe permitido localizar aquilo que cada um encontra para ajudá-lo definitivamente na vida. Trabalhou especialmente, os livros de Jerry Newport que mostra que não é qualquer competência que sustenta o autista, porque apesar da sua grande competência na área da matemática, é sua identificação como autista ( a partir do filme Rain Man) e o encontro com o sexual que o estabilizam e o permitem uma vida mais tranquila e satisfatória ao lado da sua mulher. Sérgio, em sua conferência, também apresentou a discussão do termo autismo nas cartas entre Bleuler e Freud. Essas cartas revelam o quanto o interesse de Bleuler pela psicanálise era ambivalente pois havia de sua parte recusa em considerar o erótico no autismo, enquanto que esse era exatamente o grande interesse de Freud. Posteriormente, Sérgio também faz referência à história do autismo como diagnóstico, abordando os pioneiros Kanner e Asperger, bem como Freud, para discutir o tema do afeto para os autistas: enquanto Kanner e Asperger enfatizavam o deficit em suas concepções do autismo, a noção de afeto em Freud como fator quantitativo que toca o corpo é bem mais próxima do que os autistas abordam sobre o que passa em seus corpos. Nesse contexto, Sérgio cita Jerry Newport que não se considera um “desabilitado” mas como alguém “habilitado de modo diferente”. Em seguida, diferencia autoerotismo e narcisismo, definindo o que é o autismo hoje, para a Psicanálise de Orientação Lacaniana. Conclui então abordando o efeito sujeito em cada autista.

No final da tarde de sábado, Sérgio autografou o livro O que é o autismo hoje? , organizado por ele e Elisa Alvarenga. Fomos de fato presenteados com sua presença na Seção Pernambuco. Um brinde: Tchim! Tchim!


Anamaria Vasconcelos

Membro da EBP/AMP

Nenhum comentário:

Postar um comentário