segunda-feira, 30 de março de 2015

Sobre a III Jornada MPASP – Clínica psicanalítica com autismos.

Vanessa Carrilho dos Anjos Brandão[i]
O evento foi marcado por falas sobre a clínica do autismo, a intervenção precoce e as políticas Públicas e foi com imenso prazer que pude levar minhas contribuições sobre o tema através de uma vinheta, reforçando meu compromisso ético com a Psicanálise e com os autismos.
Um menino, com seis anos, chega à Instituição para uma "avaliação global". Nesta clínica de reabilitação, o paciente passa por profissionais de diferentes áreas e, quando um diagnóstico é estabelecido, o encaminhamento segue o que a equipe prescreveu. Em seu caso, o aprendizado não corresponde ao “esperado” pela escola e ele apresenta um comportamento “estranho”. Prefere brincar sozinho, evita contato visual, fala de forma mecanizada e reduz seu discurso aos clássicos infantis Cinderela, Branca de Neve e Alice. Através de testes de personalidade e inteligência, uma psicóloga estabelece o diagnóstico de "deficiente mental" e o encaminha para os setores de Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia. Vale notar que a instituição não recebe casos de autismos e psicoses, porque considera que não há nada a fazer quando o cérebro está mal formado ou, praticamente, não existe. Assim, como “deficiente mental”, ele teve a oportunidade de iniciar um tratamento e seguir em seu “desenvolvimento”.
Na mesa intitulada "Diagnóstico diferencial: autismos, psicose e deficiências", ouvimos outras experiências, além de considerações teóricas acerca do tema. Porém, o que mais marcou o momento foi a discussão sobre o singular dessa clínica, que faz com que tenhamos que extrair de cada caso, uma construção inédita. Autismos no plural visa marcar que a direção do tratamento é dada a partir de cada caso, e não de um método, uma técnica a ser aplicada para todos. Este menino  me ensinou a escutá-lo, mesmo em seu silêncio. A posição de uma "presença ausente" não é fácil para o analista, principalmente em Instituições que possuem um funcionamento rígido e clínicas engessadas em laudos e técnicas diretivas, mas é através de nossa aposta nesses sujeitos que conseguimos estar em lugares como estes, podendo transmitir um pouco do nosso "suposto saber".
[i] Participante do laboratório “A criança entre a mulher e a mãe” (CIEN-Rio) e do Projeto Lugar & Laços.


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