Boa tarde a todos.
Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer à organização do Congresso pela oportunidade de estar aqui e poder mostrar este projeto de exposição.
O mundo no singular nasceu em 2015 oriundo de TEAdir Aragão, uma entidade de caráter social que trabalha para melhorar a vida de pessoas diagnosticadas como TEA (Transtorno do Espectro Autista). Seu objetivo é trazer a público, de forma digna, o talento merecido de três jovens autistas: a francesa Lucile Notin-Bourdeau, os espanhóis de Zaragoza Martin Giménez e o de Granada, Carlos David Illescas Vacas.
A exposição pretendia ressaltar as capacidades destes jovens e, com isso, fazer desaparecer estereótipos muito comuns a respeito do autismo e dos autistas, como, por exemplo,o suposto isolamento em que vivem ou a incapacidade de se expressarem e de se comunicarem. Ideias e qualificativos que estigmatizam e dificultam a inclusão destas pessoas na sociedade. Suas obras evidenciam o descabido destas generalizações. Os desenhos de Lucile capturam sentimentos de uma forma delicada e poética, Martin retrata seus companheiros e a si mesmo exteriorizando seu gosto e suas crenças. Ambos trazem pessoas como protagonistas de suas criações. Por outro lado, Carlos concebe paisagens que evocam o entusiasmo pelo esporte olímpico, mundo com o qual ele gosta de se relacionar. Frente a tudo isso, nós poderíamos dizer que eles vivem fechados em si mesmos, sem interesse de se socializarem?
Nós estamos reivindicando, nestas Jornadas, que muitas pessoas com deficiência intelectual possam mostrar seu talento para as artes, lugares nos quais encontram vias de expressão e comunicação, que são um meio mais acessível e satisfatório que através da linguagem oral.
Estas pessoas criam de forma espontânea e intuitiva no terreno das artes plásticas, sem um plano ou um discurso preconcebido. Suas produções podem se inscrever naquilo que se chama Arte Bruta, Arte Marginal ou Art Outsider. Não possuem um discurso prévio, estão à margem dos modismos, das opiniões da crítica, do valor econômico e de mercado que possam ter, de tal forma que toda ênfase está posta no ato criativo em si. Por isso, certos estudiosos consideram essas obras como a verdadeira Arte. De fato, seus autores, em geral, não se dedicam mais às suas obras depois de as haverem terminado. Os artistas outsider trabalham de forma incansável, fora dos critérios estéticos convencionais, para colocar em ordem a realidade, para construir seu próprio conhecimento ou para mostrar mundos interiores.
Além de apelar para que se possam eliminar as etiquetas que limitam e estigmatizam, queríamos reivindicar, com esta exposição, a arte como linguagem universal e como um instrumento magnífico para gerar encontros. Com esta ideia nós os convidamos para participar da Escola de Arte de Zaragoza e vários de seus alunos realizaram obras inspiradas nas de Lucile, Martín e Carlos, transformando a mostra em um espaço de encontro e de reflexão em torno da arte e dos processos criativos. Nossa intenção ao entrar em contato com instituições como a Escola de Arte, era a de abrir portas e colocar em contato jovens com distintas capacidades, mas com uma inquietação similar. Um encontro que resultou, como se viu, benéfico em ambas as direções.
Temos que levar em conta que boa parte dos jovens autistas não pode aceder, uma vez terminada o ciclo da ESO, a ensinamentos artísticos, que são dados no bacharelado ou na formação profissional do segundo grau.
O mundo no singular. I Encontro Internacional de Jovens artistas com autismo foi apresentada em 6 de maio de 2015, no Centro Joaquín Roncal, de Zaragoza, onde ficou até dia 30 do mesmo mês, período em que aconteceram encontros, debates e atos culturais relacionados à arte e ao autismo, entre eles, a apresentação de documentários e de um livro. Na inauguração se apresentou também um catálogo de desenhos.
A partir de sua boa recepção em Zaragoza, a exposição percorreu muitos lugares entre 24 de outubro e 30 de novembro do mesmo ano de 2015, ocupou o Espaço Arte de Huesca, durante a Fes-Masp – Festival de Arte e Saúde Mental, dos Pireneus. No período de 02 a 16 abril de 2016 esteve no Liceo Michelangelo Guggenhein, de Veneza. Em 18 a 31 de maio no Edifício Bizkaia Aretoa da Universidade do País Basco de Bilbao. De 03 a 10 de setembro, no HELHA Commun, da cidade de Tournai, na Bélgica. De 19 a 21 de março, na Maison des Associacions, de Lille. De 24 de maio a 23 junho, no Ayuntamiento de Lille, na França. De 17 a 29 de junho, no Centro Bruegel e de 01 a 02 de julho, no PIPOL 8, em Bruxelas, na Bélgica. Em fevereiro deste ano, 2018, ficou na Bastia y Ajaccio, duas cidades da Córcega.
Este projeto de exposições tem uma particularidade: desde a sua chegada em Veneza, O mundo singular foi incluindo peças de outros jovens diagnosticados de autismo.
TEAdir Aragon coordena estes percursos itinerantes com a colaboração das associações e instituições afins como TEAdir Euskadi, La MaO (associacions La Main á l”Oreille”.) Associacions Funanbules Lille e Centre Therapeutique y de Recherche de Nonette, na França. Ainda, Fondazione Martin Egge Onlus, na Itália, Centre Le Courtil y Antenne 110, na Bélgica. Estas instituições selecionaram seus artistas e obras que foram se juntando, tendo editado catálogos em italiano e em francês.
Há alguns meses, se pode visitar a exposição via internet. Na forma de museu virtual, o catálogo em rede permite dar visibilidade a um projeto singular que tomou uma dimensão inesperada, dando a conhecer mais de 40 artistas e suas obras excepcionais. Um projeto que continua aberto e crescendo, e já temos datas para a próxima exposição. As obras viajarão para o Espaço Saint Rémi, de Burdeos, em setembro, onde incorporará novas peças.
Aqui, vocês podem ter amostras das obras que foram sendo incluídas na exposição.
Como organizadores, estamos orgulhosos de que esta proposta de exposição tenha conseguido expandir a partir de seu objetivo inicial, conseguindo um alcance internacional e um âmbito de colaboração entre profissionais e associações de famílias vinculadas ao autismo. Esta colaboração nos levou a outros encontros, como o Seminário Europeu de Boas Práticas com o Autismo, organizado na cidade de Zaragoza, em setembro de 2017, por TEAdir-Aragón, pelo Espacio Torreón e pelo Centro Infantil Patinete, juntos com a Fundação de Atenção Precoce, onde o projeto expositivo O Mundo no Singular contou com todo um aparato especial.
A mostra deu origem, por sua vez, a outros projetos, entre eles, ANDAR DE NONES, um atelier de artes plásticas dirigido a jovens com déficit intelectual,desde 2016, incentivado também por TEAdir-Aragón. Este projeto que vem sendo desenvolvido em Harinera ZGZ, em um espaço público municipal, pensado para a criação e gerido de maneira colaborativa, onde estes jovens se relacionam de igual para igual com outros artistas. A metodologia de trabalho está centrada em ateliers de artes plásticas de caráter aberto dirigido a pequenos grupos de 5\6 pessoas cuja duração é de duas horas. Em 2016, se iniciou com um grupo às quintas-feiras e, atualmente, há outro grupo, às segundas-feiras. Cada grupo é apoiado por um artista que facilita a prática e por outras duas pessoas vinculadas ao projeto desde seu inicio. Uma destas pessoas é licenciada em História da Arte e a outra, além de ser coordenadora do grupo, se encarrega do acompanhamento dos familiares dos jovens que frequentam os ateliers.
O projeto de ANDAR DE NONES se diferencia de outros ateliers de arte que se distribuem entre as instituições vinculadas à deficiência intelectual com uma finalidade terapêutica ou ocupacional. Nossa proposta é a de conceber um âmbito em que estas pessoas possam desenvolver todo seu potencial criativo de forma aberta e livre, apoiados por outros artistas ou “facilitadores” com quem compartilham inquietudes e linguagens.
Existem, na America e na Europa, vários Centros e ateliers que nos serviram de modelo e que trabalham de forma similar: O CGAC (Creative Growth Arte Center), da Califórnia, o Centro Herenplaats, em Roterdam ou o Créahm (Créativité et Handicap Mental), de Lieje (Bélgica) que, há décadas, oferecem um marco idôneo para que as pessoas com diferentes deficiências intelectuais possam desenvolver seu potencial criativo no terreno das artes. Na Espanha, trabalham com os mesmos parâmetros na associação Debajo Del Sombrero, situada em Madrid.
Aqui, mostramos algumas das imagens feitas nos ateliers de pintura que acontecem, normalmente, com o apoio de Gejo, um artista de Zaragoza de renome, e de outros ateliers que vamos organizando, que trabalham com outras técnicas como a escultura, a gravação, a colagem ou artes gráficas, com a colaboração de outros artistas.
Realizaram-se diferentes exposições com estas obras nos ateliers, em espaços como no Centro Social Libreria La Pantera Rossa ou a Cicleria, em exposição atualmente, aqui mostro alguns dos cartéis das mesmas.
Nestes dois anos, temos celebrado o dia do autismo, em Harinera ZGZ, com uma festa ímpar, com música e ateliers abertos ao público, sejam eles crianças ou mais velhos, assim como outros atos em colaboração com outros coletivos como Pares Sueltos, no pátio do Centro de Historias de Zaragoza, onde se realizou um grande mural.
Uma mostra o fazer artístico de ANDAR DE NONES pode ser vista também aqui no hall deste edifício, numa das exposições organizadas no âmbito Líneas Paralelas Del festival Diversario.
Vocês podem conhecer mais sobre o projeto do Facebook, Instagram, em Andar de Nones.wordpress.com
Tradução: Rachel Amin
Revisão: Bartyra Ribeiro de Castro
terça-feira, 26 de junho de 2018
quinta-feira, 21 de junho de 2018
UM DIA DEDICADO AO AUTISMO NA EBP- SEÇÃO PE
No Recife, Seção Pernambuco da Escola Brasileira de Psicanálise, o dia 16 de junho foi um dia dedicado ao autismo.
Pela manhã, tivemos a transmissão do curso: A especificidade do autismo : o que a clínica nos ensina, com a preciosa participação de nossas colegas Paula Pimenta e Tânia Abreu. Elas apresentaram um seminário intitulado: “O que pensa a psicanálise sobre protocolos e medicamentos para o autismo”. Paula Pimenta com uma pesquisa consistente sobre os protocolos, falou sobre os principais protocolos de avaliação utilizados para detecção do autismo, colocando a posição da psicanálise frente a eles, ou seja, destacando que “a psicanálise se mostra atenta e cautelosa quanto aos efeitos de nomeações sobre o sujeito. No caso do autismo também sobre os pais. A psicanálise aposta em uma construção de sentido dessa nomeação com os mesmos, sem perder de vista o filho diante deles, que é sempre mais que a nomeação recebida”. Tânia Abreu sustentada na clínica, falou sobre a diferença entre a medicação e medicalização das crianças, esclarecendo que a psicanálise não se opõe à medicação mas ao uso indiscriminado da mesma. O uso abusivo da medicação patologiza a infância e atende interesses da indústria farmacêutica. A medicação para a psicanálise precisa ser pensada para cada criança quando assim se fizer necessário. A oposição da psicanálise é ao uso indiscriminado da medicação para todas as crianças mesmo quando os remédios não se fazem necessários, estando apenas a serviço de calar o sujeito que poderá por seu sintoma se manifestar. Ressalta Tânia Abreu: “No tocante aos quadros de Autismo, não há uma medicação única para tratar os autismos, e sim medicamentos para as comorbidades, muitas vezes necessários, como nos recorda Temple Grandin, ao falar sobre o Tofranil em seu livro Uma menina Estranha. Concluiu advertindo que a cada um sua medicação que não funciona sem a presença de pessoas amorosas”.
No período da tarde, contamos com a presença de Sérgio Laia, psicanalista , AE, Analista da Escola no período 2017 - 2020 e AME, Analista Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise. Ele fez uma conferência cujo título foi: Sexualidade e autismo : o que nos ensina Jerry Newport. Sérgio falou da sua pesquisa realizada a partir de autobiografias de 20 autistas, e que têm lhe permitido localizar aquilo que cada um encontra para ajudá-lo definitivamente na vida. Trabalhou especialmente, os livros de Jerry Newport que mostra que não é qualquer competência que sustenta o autista, porque apesar da sua grande competência na área da matemática, é sua identificação como autista ( a partir do filme Rain Man) e o encontro com o sexual que o estabilizam e o permitem uma vida mais tranquila e satisfatória ao lado da sua mulher. Sérgio, em sua conferência, também apresentou a discussão do termo autismo nas cartas entre Bleuler e Freud. Essas cartas revelam o quanto o interesse de Bleuler pela psicanálise era ambivalente pois havia de sua parte recusa em considerar o erótico no autismo, enquanto que esse era exatamente o grande interesse de Freud. Posteriormente, Sérgio também faz referência à história do autismo como diagnóstico, abordando os pioneiros Kanner e Asperger, bem como Freud, para discutir o tema do afeto para os autistas: enquanto Kanner e Asperger enfatizavam o deficit em suas concepções do autismo, a noção de afeto em Freud como fator quantitativo que toca o corpo é bem mais próxima do que os autistas abordam sobre o que passa em seus corpos. Nesse contexto, Sérgio cita Jerry Newport que não se considera um “desabilitado” mas como alguém “habilitado de modo diferente”. Em seguida, diferencia autoerotismo e narcisismo, definindo o que é o autismo hoje, para a Psicanálise de Orientação Lacaniana. Conclui então abordando o efeito sujeito em cada autista.
No final da tarde de sábado, Sérgio autografou o livro O que é o autismo hoje? , organizado por ele e Elisa Alvarenga. Fomos de fato presenteados com sua presença na Seção Pernambuco. Um brinde: Tchim! Tchim!
Anamaria Vasconcelos
Membro da EBP/AMP
Pela manhã, tivemos a transmissão do curso: A especificidade do autismo : o que a clínica nos ensina, com a preciosa participação de nossas colegas Paula Pimenta e Tânia Abreu. Elas apresentaram um seminário intitulado: “O que pensa a psicanálise sobre protocolos e medicamentos para o autismo”. Paula Pimenta com uma pesquisa consistente sobre os protocolos, falou sobre os principais protocolos de avaliação utilizados para detecção do autismo, colocando a posição da psicanálise frente a eles, ou seja, destacando que “a psicanálise se mostra atenta e cautelosa quanto aos efeitos de nomeações sobre o sujeito. No caso do autismo também sobre os pais. A psicanálise aposta em uma construção de sentido dessa nomeação com os mesmos, sem perder de vista o filho diante deles, que é sempre mais que a nomeação recebida”. Tânia Abreu sustentada na clínica, falou sobre a diferença entre a medicação e medicalização das crianças, esclarecendo que a psicanálise não se opõe à medicação mas ao uso indiscriminado da mesma. O uso abusivo da medicação patologiza a infância e atende interesses da indústria farmacêutica. A medicação para a psicanálise precisa ser pensada para cada criança quando assim se fizer necessário. A oposição da psicanálise é ao uso indiscriminado da medicação para todas as crianças mesmo quando os remédios não se fazem necessários, estando apenas a serviço de calar o sujeito que poderá por seu sintoma se manifestar. Ressalta Tânia Abreu: “No tocante aos quadros de Autismo, não há uma medicação única para tratar os autismos, e sim medicamentos para as comorbidades, muitas vezes necessários, como nos recorda Temple Grandin, ao falar sobre o Tofranil em seu livro Uma menina Estranha. Concluiu advertindo que a cada um sua medicação que não funciona sem a presença de pessoas amorosas”.
No período da tarde, contamos com a presença de Sérgio Laia, psicanalista , AE, Analista da Escola no período 2017 - 2020 e AME, Analista Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise. Ele fez uma conferência cujo título foi: Sexualidade e autismo : o que nos ensina Jerry Newport. Sérgio falou da sua pesquisa realizada a partir de autobiografias de 20 autistas, e que têm lhe permitido localizar aquilo que cada um encontra para ajudá-lo definitivamente na vida. Trabalhou especialmente, os livros de Jerry Newport que mostra que não é qualquer competência que sustenta o autista, porque apesar da sua grande competência na área da matemática, é sua identificação como autista ( a partir do filme Rain Man) e o encontro com o sexual que o estabilizam e o permitem uma vida mais tranquila e satisfatória ao lado da sua mulher. Sérgio, em sua conferência, também apresentou a discussão do termo autismo nas cartas entre Bleuler e Freud. Essas cartas revelam o quanto o interesse de Bleuler pela psicanálise era ambivalente pois havia de sua parte recusa em considerar o erótico no autismo, enquanto que esse era exatamente o grande interesse de Freud. Posteriormente, Sérgio também faz referência à história do autismo como diagnóstico, abordando os pioneiros Kanner e Asperger, bem como Freud, para discutir o tema do afeto para os autistas: enquanto Kanner e Asperger enfatizavam o deficit em suas concepções do autismo, a noção de afeto em Freud como fator quantitativo que toca o corpo é bem mais próxima do que os autistas abordam sobre o que passa em seus corpos. Nesse contexto, Sérgio cita Jerry Newport que não se considera um “desabilitado” mas como alguém “habilitado de modo diferente”. Em seguida, diferencia autoerotismo e narcisismo, definindo o que é o autismo hoje, para a Psicanálise de Orientação Lacaniana. Conclui então abordando o efeito sujeito em cada autista.
No final da tarde de sábado, Sérgio autografou o livro O que é o autismo hoje? , organizado por ele e Elisa Alvarenga. Fomos de fato presenteados com sua presença na Seção Pernambuco. Um brinde: Tchim! Tchim!
Anamaria Vasconcelos
Membro da EBP/AMP
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