quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Abaixo-assinado sobre o autismo


Autismo - Sim à livre escolha do método de tratamento / Não à interdição da psicanálise

Senhor Presidente da Assembléia Nacional,

Senhoras e Senhores deputados,

Queremos chamar sua atenção para a deriva liberticida da proposição de resolução depositada pelo Senhor Fasquelle e noventa e três deputados junto à Presidência da Assembléia Nacional no dia 13 de outubro de 2016, convidando o Governo a "promover um tratamento do autismo baseado nas recomendações da Alta Autoridade de Saúde (HAS)", convidando-o ainda a "condenar e interditar as práticas analíticas sob todas as suas formas, pois não são recomendadas pela HAS". Estamos muito surpresos que esta proposição dê seguimento à intervenção do Presidente da República que, durante a Conferência Nacional do Deficiente, no dia 19 de maio de 2016, desejou que o 4o Plano do Autismo fosse aquele "do apaziguamento e da união. Porque devemos ter todas as respostas e as respostas mais adaptadas, sem preconceitos e sem vontade de impor uma solução antes que outra".

Ao contrário, a orientação desta resolução visa fazer adotar politicamente uma posição radical em um domínio complexo, caracterizado por dados científicos que não permitem senão recomendações muito prudentes.

Esta proposição procede claramente a um desvio das recomendações da HAS, sobre ao menos três pontos: 

ao querer transformar as recomendações em injunções, afirmando que os métodos recomendados são validados científicamente
ao pretender que a psicanálise se encontraria na lista dos métodos não recomendados, ao passo que a HAS teve o cuidado, na ausência de consenso entre experts quanto à pertinência da abordagem psicanalítica, de classificá-la na lista dos métodos não consensuais. Não consensual não quer dizer não recomendado. 

Cada um sabe que os debates em torno do autismo são de uma extrema complexidade. Sua acepção varia ao sabor das edições dos manuais de psiquiatria, e os diversos trabalhos não são capazes de explicar porque sua extensão parece ter se tornado epidêmica durante as últimas décadas, ao passo que eles permanecem bem prudentes quando se pronunciam sobre a qualidade dos tratamentos educativos. É consenso na literatura científica internacional que os tratamentos recomendados conhecem mais fracassos que sucessos - esses últimos nas meta-análises chegando dificilmente a 50%. Desde então, sobre o que se funda este projeto de resolução para chamar a decidir sobre problemas quanto aos quais os especialistas permanecem em grandes incertezas? 

Os deputados signatários consideram que existe "abordagens validadas cientificamente, que deram provas de sua eficácia". A HAS se mostra muito mais prudente. Dos três métodos recomendados (ABA, Denver e TEACCH), ela estima que só os dois primeiros atingem uma "presunção científica" de eficácia (grau B), a terceira "um fraco nível de prova" (grau C). Nenhum dos três chega ao grau A, o da validação científica. Por outro lado, o programa de Denver, recomendado pela HAS, se funda em parte sobre os conceitos psicanalíticos de M. Mahler. A partir de qual dose de psicanálise uma prática deveria ser interditada?

Os deputados signatários parecem desconhecer que a Federação Francesa de Psiquiatria, que eles põem em questão, não se pronuncia quanto à psicanálise com os autistas, por outro lado, ela permanece ligada à liberdade de escolha dos tratamentos. Que o Estado venha, com esse princípio, tomar partido nos debates científicos, não tem equivalente em um regime democrático, e não deixa de lembrar, cruelmente, derivas totalitárias.

Querer dar forma impositiva a "recomendações" seria desconhecer que, em matéria de saúde, as verdades de hoje podem não ser as de amanhã. Isso conduziria a levantar um obstáculo a toda tentativa de fazer avançar os conhecimentos sobre o tratamento dos autistas, atualmente lacunares e incertos. Os esforços para fixar o saber não fazem boa parceria com o progresso.

Senhoras e senhores deputados, é mais do que tempo de fazer escutar, nesse domínio delicado, a voz da razão e que os profissionais engajados há numerosos anos nos cuidados e no acompanhamento de sujeitos autistas, crianças, adolescentes e adultos, nos setores de pedopsiquiatria e nas instituições medico-sociais possam continuar sua tarefa em um clima apaziguado, em relação com os pais e com o conjunto do meio educativo.

Senhoras e senhores deputados, o pluralismo das formações e das práticas sempre foi a orientação dos políticos de saúde pública, para propor às famílias e aos pacientes uma livre escolha esclarecida pelos cuidados e acompanhamentos. Este projeto de resolução derroga fundamentalmente a esta orientação e, por estas razões, nós lhes pedimos urgentemente para não sustentá-lo.

Este abaixo-assinado será entregue para:
Monsieur le Président de l'Assemblée nationale
Mesdames et Messieurs les députés

domingo, 4 de dezembro de 2016

Seminário Autismo e Psicose Infantil - da clínica à política, e retorno.

A proposta de trabalhar a distinção do autismo visa circunscrever balizas que orientam a topologia dos circuitos de gozo, através da leitura de casos clínicos, atendidos em instituições ou no campo privado, e manter em aberto o debate sobre a Política da Saúde Pública e a Política da Psicanálise.
Nadia, Marie-Francoise, Robert e Maryse - partimos do que nos ensinam os clássicos dos Leforts, que consideram o corpo com furos, superfícies e bordas, e seguimos o fio condutor que percorre seus trabalhos: o significante-sozinho [significant-tout-seul], "da clínica à política e retorno", na expressão de Laurent.
Esta é a proposta de nosso Seminário, que no próximo sábado dará prosseguimento ao estudo sobre o caso Robert articulando o capítulo sobre a pulsão escópica (Les structures de la psychose: L'Enfant au loup et le Président, Paris: Seuil, 1988) à quatro textos publicados no site da 46a Journée da ECF: L'objet regard, que selecionamos e traduzimos para este nosso encontro.
Na segunda parte do Seminário nos dedicaremos ao debate sobre questões cruciais levantadas durante o Curso "Autismo e Psicose Infantil - política, clínica e prática em instituição", realizado no Hospital São Zacharias/Santa Casa da Misericórdia/UCAM, em que estivemos trabalhando com Marita Manzotti (EOL/AMP) e Daniela Teggi (EOL/AMP), na direção do Observatório sobre Políticas do Autismo - FAPOL. Foi uma experiência muito rica de transmissão da clínica e do trabalho da psicanálise de orientação lacaniana (surpreendentemente, sem tradução!) em instituições na Argentina, Brasil, Bélgica, França e Itália, em que conceitos foram abordados a partir de casos clínicos e questões sobre Políticas Públicas promoveram uma viva conversação.
Deste encontro de dezembro, depreenderemos questões que se desdobrarão para 2017, quando iniciaremos nosso quarto ano de trabalho!
Agradeço aos colaboradores, Comissão de Tradução e participantes pelo  que estamos realizando juntos e aos colegas da EBP/AMP que, generosamente, têm vindo "por conta e risco" compartilhar conosco suas clínicas.
Ana Martha Maia (EBP/AMP)
Coordenação

Colaboradora: Bruna Brito.
Comissão de Tradução : Amanda Nunes, Ana Martha Maia, Anna Carolina Nogueira, Astrea Gama e Silva, Bruna Brito, Luiza Sarrat Rangel, Maria Elizabeth Araújo, Marina Valle, Pietro Mega, Sonia Carneiro Leão e Valéria Glioche.
Data: 3 dezembro. Sábado, 10h.
Local: Sede da EBP-Rio. Rua Capistrano de Abreu, 14. Humaitá. Informaçõesanamarthamaia@gmail.com
*Aos inscritos que ainda não receberam, solicitar as traduções por email.





sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Seminário Autismo e Psicose Infantil - da clínica à política, e retorno - Barra da Tijuca

Corpo, sintoma e gozo.
"Achamos que dizemos o que queremos, mas é o que quiseram os outros, mais particularmente nossa família, que nos fala. Escutem esse nós como um objeto direto. Somos falados e, por causa disso, fazemos, dos acasos que nos levam, alguma coisa de tramado.

Com efeito, há uma trama – chamemos isso de nosso destino."
Jacques Lacan, Seminário 23.
"Assuntos de família - seus enredos na prática" é o tema do VIII Enapol (Buenos Aires, 14 e 15/set/2017) que abordará os efeitos do declínio do pai na família contemporânea e a prática da psicanálise, a partir do Um sozinho. Se o inconsciente é o discurso do Outro, da família (Miller, El ultimísimo Lacan), do Outro ao Um "ser seu sinthoma é livrar-se das escórias herdadas do discurso do Outro, depois de tê-las percorrido" (Lacan, Seminário 24: L´insu que sait de l'une bévue sáile a`mourre).

Assim, destacamos os seguintes eixos temáticos para nossos encontros de 2017: A família, ficção necessária; Segredos de família; As famílias e as instituições educativas; Maus garotos, crianças sozinhas; As novas leis de identidade de gênero e matrimonio igualitário: consequências subjetivas e familiares; e Sintomas familiares, famílias sintomáticas (http://www.asuntosdefamilia.com.ar/pt/template.php?file=Ejes-tematicos.html). A cada encontro, teremos um caso clínico relacionado a um eixo.

Na semana que vem, trabalharemos a questão "como se faz um corpo", tendo como referência o texto de Alexandre Stevens: "Fazer-se um corpo na adolescência" (http://www.institutopsicanalise-mg.com.br/ciendigital/n20/fazer-se-um-corpo-na-adolescencia.html) e o caso clínico de uma criança que Valeria Ferranti apresenta no texto "Fazer-se um corpo", orientados no que Miller chama de "todo Lacan": do ultimíssimo Lacan a seu primeiro ensino.


Coordenação: Ana Martha Maia (EBP/AMP).

Colaboradoras: Bruna Brito e Valéria Glioche.

Comissão de Tradução : Amanda Nunes, Ana Martha Maia, Anna Carolina Nogueira, Astrea Gama e Silva, Bruna Brito, Luiza Sarrat Rangel, Maria Elizabeth Araújo, Marina Valle, Pietro Mega, Sônia Leão e Valéria Glioche.

Datas: 7 dezembro. Quarta-feira. 12:30h.

Local: Rua Rui Frazão Soares, 121/sala 205. La Playa. Alpha Barra I.

Informações: anamarthamaia@gmail.com



*Aos inscritos que ainda não receberam, solicitar as traduções por email. Para os participantes que ainda não conseguiram comprar o livro, fazemos pedidos diretamente à editora.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

COMPARECIMENTO FRENTE À COMISSÃO DA INFÂNCIA DO PARLAMENTO DA CATALUNHA

15 de Novembro de 2016

Em defesa da pluralidade de abordagens, a causa dos pais e a voz do autista.

Iván Ruiz


Presidente da Associação TEAdir de pais, mães e familiares de pessoas com TEA

Estimada presidenta, estimados membros da Comissão,

Como Presidente da Associação TEAdir de pais, mães e familiares de pessoas com autismo, quero agradecer muito sinceramente seu convite a participar no marco desta câmara, plural e democrática, na que desejamos ter um debate sustentado no tempo.

Queria, entretanto, começar minha intervenção expressando o incomodo que nos gera – e falo em nome de muitos dos pais que hoje represento – nos sentirmos empurrados a entrar num confronto de tratamentos para o autismo que está longe de nossos objetivos fundantes.

A Associação TEAdir foi criada para proteger uma sensibilidade diferente na hora de entender e tratar o autismo, que foi representada nas reclamações que a Associação Aprenem fez ao Congresso de Deputados, em 2010. Queríamos pensar que suas demandas foram feitas com a melhor das intenções – reclamavam a melhora da atenção às pessoas com autismo -, mas, em nosso entendimento, da pior forma, pois previam essa melhora a partir de uma única abordagem financiada pela administração, a comportamental. O posicionamento da entidade que represento é outro, e o convite a falar hoje aqui – a partir de minha dupla condição de pai e profissional – me permite expor isso.

1. A ação política em termos de autismo

Acreditamos firmemente que a oferta pública da atenção às pessoas com autismo e às suas famílias é uma questão que deve ser estabelecida pelas administrações e pelos profissionais que estão implicados na atenção direta às dificuldades pelas quais uma pessoa com autismo passa ao longo de sua vida. Como dizia o sociólogo Michel Gauchet, a política é o lugar de uma fratura da verdade. E, em termos de autismo, nem os pais, nem os profissionais, nem os políticos estamos em disposição de avançar com verdades absolutas.

2. Um lugar para o saber profissional

No debate sobre o autismo na Catalunha, nos últimos anos se produziu um deslocamento que nos preocupa. Passou-se do que deveria ser a melhora na atenção às crianças com autismo a uma batalha pelo tratamento mais eficaz. Escutamos alguns posicionamentos que caem no exercício de poder e na exigência da melhora de uns em detrimento da de outros. Se bem nós, pais e mães, possamos aportar nossa experiência no dia a dia e ao longo dos anos com nossos filhos, não nos corresponde nem elaborar o saber epistêmico nem contribuir a consensos profissionais. Empurram-nos a intervir num debate profissional que não nos corresponde, que não acreditamos que leve a lugar algum, mas no qual nos vemos sem poder escapar, se o que queremos é ser escutados como pais.

3. O ataque contra a psicanálise

Apesar de a Catalunha contar, desde 2012, com um Plano integral sobre o autismo, surgido do consenso de uma ampla gama de profissionais e do trabalho conjunto dos departamentos de Educação, Saúde e Bem-estar social, segue sendo questionada a formação e o exercício de alguns profissionais que trabalham na atenção pública. A associação que escutarão depois, Aprenem autisme, acredita ter encontrado a razão dos males do nosso sistema público: Eles localizam nos psicanalistas a causa da escassa melhora das crianças com autismo e propõem as técnicas comportamentais como as únicas cientificamente aceitáveis.

4. A evidencia científica

A fé na ciência, o que se denominou o cientificismo, está fazendo um desserviço ao desenvolvimento lento, porém firme, da comunidade cientifica internacional em matéria de autismo. A tão venerada “evidência científica” foi tomada por alguns como o estandarte de suas reclamações, até o ponto de tergiversar e fabricar supostas evidências que não puderam ser nem replicadas nem confirmadas. O método comportamental ABA (Applied behavior analysis), desenvolvido nos anos 60 por Lovaas nos Estados Unidos, foi denunciado por famílias e usuários por suas formas eticamente duvidosas. Os métodos baseados no ABA demonstraram uma eficácia limitada em contextos muito precisos e focalizados em algumas condutas muito concretas. Nenhuma generalização na pessoa que é um autista foi até agora demonstrada. E, se se trata de evidências, no plural, contamos com estudos que demonstram os resultados obtidos pela psicanálise e por outros tipos de abordagens terapêuticas. A atual fé cega na “evidência cientifica” revela uma aliança feroz entre a ciência e os interesses de mercado, que silencia as experiências singulares.

No que diz respeito aos pais, que somos os que vivemos com o autismo dia após dia e durante toda nossa vida, não acreditamos que exista nenhuma outra evidência que aquela que podemos verificar em nossos filhos e também naquilo que nos serviu. A evidência que lhes pedimos que seja considerada hoje aqui não é outra que a evidência testemunhal.

5. O direito à liberdade de formação

Nosso país conta com uma variedade de profissionais que intervém a partir de seu saber nos diversos momentos e situações pelas quais uma pessoa com autismo passa. Estes profissionais mantiveram, até hoje, seu direito a se formar da maneira que considerem mais adequada diante do desafio que supõe a abordagem do autismo de uma criança, um adolescente ou um adulto, e de acordo com sua própria ética. Pedimos que este direito não seja violado, porque precisamos do desejo sustentado desses profissionais para o projeto de vida que temos a nossa frente, como pais.

6. Pluralidade de abordagens do autismo

O campo da atenção precoce é hoje o centro de atenção das políticas sócio-sanitaristas . Contamos, na Catalunha, com uma rede de centros de atenção precoce sem comparação no resto do estado, a partir da qual se atende, certamente, o momento mais delicado da vida de uma criança que será diagnosticado de autista.

O autismo cristaliza durante os primeiros meses e anos de vida. Não costuma ser uma aparição progressiva, a de seus sintomas, senão uma irrupção brusca de um rechaço generalizado da criança ao outro. As intervenções feitas deverão ser direcionadas a ajudar a criança a entrar no vinculo com o outro, mas, além disso, - e é o que nós mais apreciamos – a respeitar seus próprios tempos.

Esta rede de centros, multidisciplinar e plural na formação dos profissionais que os integram, tem sido ultimamente menosprezada pela suposta presença excessiva de psicanalistas. Quero esclarecer diante desta comissão que em nenhum destes centros trabalham psicanalistas como tal. Poderão encontrar profissionais diversos que se orientam a partir da psicanálise para fazer frente às dificuldades das crianças com autismo, mas também a outros, que seguem, por exemplo, métodos cognitivo-comportamentais. Em nenhum caso encontrarão um predomínio de uma abordagem em detrimento de outras. De onde provem então a extensão da ideia de que existe um predomínio da abordagem psicanalítica na atenção precoce? Acreditamos que é a intuição, o respeito e a atenção à criança, como um sujeito em processo de construção, o que faz com que as intervenções da maior parte desses profissionais mantenham uma atitude de escuta e acompanhamento. Certamente é algo prioritário para a psicanálise, mas não nos parece que seja propriedade dela.

Constatamos então um mal-entendido, que tomou forma de ataque a uma suposta disfunção do sistema.

7. O autismo e a educação

No que diz respeito à educação, a situação nas escolas se agrava. A inclusão educativa deixou de ser um direito para todas as crianças para ser uma exigência, que as crianças autistas acusam mais dada à vulnerabilidade e a fragilidade que tem em relação com a demanda dos adultos, que lhes é própria. Esperamos o novo Decreto sobre inclusão do Governo da Catalunha, já anunciado, mas nos perguntamos: De que se trata quando falamos de inclusão? Trata-se realmente da inclusão da criança num edifício determinado, que leva a catalogação de ordinário – “normal”, como se costuma dizer –, ou da inclusão da criança no vinculo com os demais? Não é isto o que se espera também das crianças nos centros especiais ou específicos com os que conta nossa rede de centros públicos? As escolas chamadas especiais são, para algumas crianças com autismo, o melhor recurso para construir um ambiente diante do qual não se mostrem refratárias. Consideramos, por um lado, que os percursos possíveis pelas diferentes instituições educativas devem ser suficientemente ricos e diversos para que aquelas crianças que não podem, de nenhum modo, se incluir nas aulas ordinárias, tenham a possibilidade de fazê-lo em outros centros.

Isto é o que existe neste momento e que não podemos perder.

Ainda assim, convém ressaltar o erro claro que suporia colocar sobre a escola ordinária a responsabilidade de tratar o autismo. O trabalho de coordenação em rede dos diferentes serviços implicados é o que demonstra, cada vez mais, os benefícios para situar, também, a criança com autismo como protagonista do processo educativo.

Sem dúvida, a crise econômica deixou muitas escolas sem recursos suficientes, mas, sobretudo, prejudicou a confiança naquilo que as equipes educativas fazem: atender e promover o surgimento do consentimento da criança com autismo a ser educada.

O autismo nos confronta com uma singularidade irredutível. Cada criança autista o é a sua maneira. Se bem isto é certo para os seres humanos, é ainda mais verdadeiro no caso do autismo. Impossível tratar a todos os autistas da mesma forma. Esta é uma verdade experimentada a cada vez por pais, educadores, professores e terapeutas. Em consequência, nenhum tratamento, nenhum projeto educativo que parta do “para todos os autistas, o mesmo” poderá receber nossa confiança.

8. A reeducação

Finalmente, a reeducação. As crianças autistas despertam nos adultos uma vontade de restituição de tudo aquilo que se interpreta como o que lhe falta: falta de fala, de atenção, de interesse, de obediência, etc. Esta resposta do adulto esquece, em muitas ocasiões, que aquilo que a criança autista não faz pelos caminhos padronizados, supre de outra forma. As técnicas reeducativas que se exigem hoje para todos os autistas deixam claro esse fato, e pedem ao autista que responda aos ideais de normalidade que tem os adultos que lhe cercam. Pretendem ensinar o autista a não ser autista, da mesma maneira que pretenderiam ensinar um cego a ver, submetendo-o, por exemplo, a imagens em lugar de incidir no resto dos sentidos.

Estimados membros da comissão de infância, o que queríamos transmitir com essas oito indicações é uma argumentação em resposta a um ataque, ao que estamos assistindo nos últimos anos, aos pilares fundamentais de uma sociedade, a catalã, que conseguiu uma rede na atenção pública educativa e sanitária, reflexo de um tecido social e associativo, construído durante décadas de democracia. As vontades de incidir nos modelos públicos não deveriam poder se exercitar sem o diálogo e o consenso. Qualquer participação unilateral não será senão uma imposição, se um coletivo se erige no verdadeiro e único porta-voz de uma causa legitima, neste caso a dos pais. Convém desconfiar, então, daqueles que falam em nome de todos os pais, porque quando não baste com dedicar-se a seus filhos, passarão a exercer o poder sobre as vontades dos outros.

Queria agora falar de Héctor, meu filho. Quando constatamos que as coisas não iam como deveriam, ele tinha quase dois anos. Lembro bem da primeira psicóloga de um serviço publico com quem entramos em contato. Naquela primeira visita, nos avisou que passaria ao nosso filho um dos testes utilizados, em algumas ocasiões, para saber se se trata de um autismo. Tirou um conto de sua caixa e entregou a ele, queria – disse – avaliar como manipulava os objetos. Héctor o segurou com as duas mãos, girando imediatamente as abas do livro no sentido inverso, até que conseguiu, forçando a coluna, que o livro fizesse um “crack”. Então, ela preencheu decidida a caixa do teste correspondente deixando-nos saber que Héctor não manipulava corretamente os objetos.

Hoje Héctor já tem quase 11 anos. Mais além das dificuldades presentes, que lhes pouparei, é apaixonado por música, em concreto as Variações Golberg de Bach, a primeira versão que Glenn Gould fez em 56. Tem ouvido absoluto, toca piano, mas também extrai sons de todo tipo de objetos. Grava em seu Ipad suas composições improvisadas, sincronizando, por exemplo, os sons de um teclado, o giro frenético de um copo e a corda do vaso sanitário. São suas composições num estilo que lembra a experimentação musical infantil de músicos contemporâneos como Robert Gerhard ou Oliver Messiaen. Não temos dúvidas hoje de que seu interesse pela música, pelos sons, pelos ruídos, o silencio, provém daquele primeiro objeto de interesse: o objeto sonoro. Longe de menosprezar sua atividade primeira, de extrair ruído dos livros ou de fazer girar anéis, o trabalho que iniciou depois com a psicanalista que lhe acompanha até agora lhe permitiu levar mais além de seu autismo aquilo que começou como uma repetição ad libitum, como uma obsessão inútil – disseram alguns – de uma conduta que foi registrada, no teste, como um mau funcionamento. Penso que, se tivéssemos aceitado a proposta comportamental de modificar suas conditas “inúteis”, teríamos interferido gravemente em sua investigação singular.

Certamente, os livros de que mais gosta nestes momentos são os que contêm um grande número de páginas. Usa para seguir sua numeração e pronunciar os números em castelhano, catalão e inglês. Aprendeu a ler e a escrever numa relação muito intima com os sons das palavras que designam números e letras. No centro em que está se escolarizando, que favoreceu todos esses avanços, sabem que devem respeitar muito bem o gozo que ele extrai daí e não convertê-lo numa aprendizagem regrada, para que ele siga mantendo este interesse.

Para concluir, queria lhes explicar algo que, a partir do TEAdir, aprendemos das crianças com autismo. Donna Willians, de quem conhecemos os testemunhos publicados, se referia a sua experiência como autista dizendo que durante sua infância se debatia numa luta constante para, por um lado, manter o mundo fora, mas, por outro, para chegar a ele. Essa é a verdadeira batalha do autismo, que se livra em cada criança a partir do que pode chegar a ser um, seu, inquietante silêncio. Consideramos o autismo como o congelamento de uma criança no momento prévio à entrada na palavra e no vínculo com o outro. É nesse momento quando ele se detém, protegendo-se em circuitos restritos dos que obtém uma satisfação que lhes é absolutamente apreciada. Entendemos assim que o psicanalista Jacques Lacan se referisse ao autismo como o estádio nativo de todo sujeito, e que, para entrar no campo do outro, a criança tenha que consentir a perdê-lo. Quando isso não acontece se desencadeia a sintomatologia autista, que coloca os pais diante de um enigma que não pode ser resolvido com propostas padronizadas.

Uma criança autista é, em primeiro lugar, uma criança que se encontra imersa em dois processos realmente complexos:

1. Proteger-se da presença dos demais, aos quais sente como agentes da exigência de sua renúncia a seus objetos, a seus circuitos e a seus modos de buscar uma satisfação constante.

2. Extrair dos adultos tudo aquilo que lhe sirva para construir uma versão própria do funcionamento do mundo que lhe cerca. Esta construção, muito frequentemente invisível aos olhos do adulto e estranha para o senso comum, converte-se em seguida em seu centro de interesse, mas, além disso, em uma fonte de onde extrair um sentimento de vida.

Se a psicanálise nos permitiu encontrar o interesse no autismo de nossos filhos é porque os profissionais que se orientam nesta abordagem - psicólogos, certamente, mas também fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicomotricistas, pediatras, professores, educadores, musicoterapeutas, entre outros – estão especialmente atentos á forma como uma criança com autismo extrai do que faz um mínimo sentimento de vida. O que é isso senão aquilo em que estamos interessados qualquer um de nós?

Acreditamos finalmente que a atenção ao autismo não pode ser de outra maneira que global e multidisciplinar:

- A globalidade implica que a ajuda que se busca para a criança de maneira ambulatória não é suficiente, e que a atenção deve ser feita de forma extensiva ao acompanhamento das famílias, à adequação do âmbito escolar às necessidades da criança e à idoneidade dos espaços de ócio. É, de fato, este o modelo promovido pela Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência.

- E a multidisciplinaridade, que resulta imprescindível para poder responder às necessidades diversas da pessoa ao longo do tempo. Mais além das abordagens, técnicas ou tratamentos, a atenção às pessoas, promovida pelas atuais diretrizes europeias, deve responder às problemáticas, complexas em alguns casos, que surgem, sobretudo, quando o sujeito entra na puberdade e na idade adulta.

Somos conscientes de que não é este o objeto desta comissão, mas temos nas mãos, administrações, profissionais, políticos e famílias, um tema muito mais urgente do que hoje tratamos: os serviços sócio-sanitários para os adultos afetados pelo autismo ou algum transtorno mental severo, e a situação de alguns adolescentes que, com um diagnóstico de autismo, com a avaliação do CAD (Serviço de avaliação e orientação para pessoas com deficiência) favorável ao serviço residencial, com a impossibilidade real de viver e se apoiar em suas famílias, lhes é negado um recurso assistencial pelo fato de ter cumprido a maioridade. Quero fazer uma menção concreta de alguns dos meninos que acompanhamos em nossa associação e que se encontram nessa situação: Álex Peña, Roman Pisa e Carlos Lozano.

Assistimos em nossa associação a situação de urgência de algumas famílias que só podem fazer uso da única saída diante das crises severas de seus filhos: o ingresso hospitalar com a presença exigida dos pais durante todo o tempo do ingresso, que consiste em: nenhum tipo de abordagem terapêutica, alta dose de medicação e sistema de correias para manter o menino atado durante os momentos mais difíceis. As crianças com autismo são o centro de lutas ferozes, nas quais se vinculam interesses de todo tipo. Mas temos diante de nós uma realidade que não podemos prevenir: Que modelos assistenciais podemos oferecer hoje aos adolescentes e adultos que não encontraram uma solução exitosa para se sustentar num mínimo sentimento de vida?

A partir da Associação TEAdir lhes pedimos, então, que:

1. Liderem o debate das ideias ao redor do autismo.

2. Recolham as diversas sensibilidades em volta desta questão tão complexa.

3. Protejam os direitos fundamentais do exercício de nossos profissionais e a formação que eles decidam fazer livremente.

4. Solicitem o pronunciamento explicito dos diversos coletivos profissionais implicados, também das diferentes escolas de psicanálise, sobre a formação de seus profissionais e os princípios éticos de sua prática.

5. Atendam as petições diversas das associações que hoje estão representadas e de outras que trabalham fortemente para a melhora do autismo de seus associados.

Defendemos a pluralidade de abordagens e o direito democrático dos pais a escolher o tipo de tratamento que considerem mais adequado. Esta é nossa causa, como pais. Sobre o autismo de nossos filhos, tudo o que dissermos será uma interpretação nossa. As crianças autistas mantém uma relação direta com o inefável, e é a vocês e a nós a quem corresponde dar uma resposta.

VÍDEO COMPLETO DA SESSÃO:

http://www.parlament.cat/web/canal-parlament/activitat/comissions/index.html








Tradução: Anna Carolina Nogueira

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Extensão autismo UFPR 2016

A mobilização promovida pela Escola Brasileira de Psicanálise, em torno da questão do Autismo, possibilitou a criação do Observatório do Autismo da EBP no FAPOL, e avança capitaneada pelos membros da EBP, fortemente, em seus objetivos, em várias cidades brasileiras, ocupando os espaços públicos e privados, capazes de aglutinar os heroicos guerreiros envolvidos nessa batalha, que são os profissionais de saúde, pais, educadores, familiares, cuidadores, legisladores, autoridades, etc.

O Ateliê de Clínica Psicanalítica da Orientação Lacaniana - ACPOL, inscrito em 17 de fevereiro de 2013 no LABRASIVO, do Instituto Lacan, interage com os mais variados segmentos da sociedade, promovendo diálogos com profissionais liberais, estudantes, psicanalistas, artistas, professores. Atento às demandas oriundas do “Universo Autista”, preocupado com a LEI Nº 12.764, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2012 - lei brasileira que Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, que qualifica como doença o comportamento autista, insatisfeito também com as consequências da edição do DSM-5, com a patologização da infância, e ainda, desconfortável com os resultados e os métodos de tratamento praticados, o ACPOL, a partir de 2013, assume a liderança na cidade de Curitiba, nesse campo de luta, inspirado no livro de Éric Laurent “A BATALHA DO AUTISMO”, Da clínica à política.

O ACPOL em sua inserção no Autismo utiliza como premissa a questão “o que o autismo pode nos ensinar”. Aplica no desenvolvimento dos trabalhos, nesse campo de pesquisa, estudo e ensino, uma estratégia sempre orientada pela singularidade do sujeito autista, em sua posição no mundo, e procura viabilizar a participação das pessoas que fazem parte do universo social de cada autista.

Em 2014 o Ateliê de Clínica Psicanalítica da Orientação Lacaniana começou a desenvolver trabalho de pesquisa e ensino junto ao Laboratório de Psicopatologia da UFPR, na linha de pesquisa “O Autismo, as psicoses e suas interfaces na Psicanálise”. E é dentro desta parceria com a universidade, que nesse mesmo ano de 2014, realizou o curso de extensão “O que o Autismo pode nos ensinar”, que agora, no segundo semestre de 2016, é reeditado, com uma temática mais abrangente, dentro de um formato mais participativo e com a colaboração de profissionais com larga experiência prática e teórica na área do Autismo.

Consciente do grau de dificuldade que é dialogar com um grupo heterogêneo de pessoas, em sua formação, onde muitos participantes desconhecem os conceitos fundamentais da psicanálise, o ACPOL preparou um conteúdo capaz de atingir adequadamente a todos os participantes, percorrendo os aspectos históricos e conceituais do Autismo, bem como as experiências acumulados por profissionais, pesquisadores e instituições de viés psicanalítico no campo do Autismo, abrindo espaço para o diálogo e troca de experiência com pais, cuidadores, autistas e profissionais da área da saúde e educação. Neste sentido novos colegas do Ateliê puderam compartilhar suas experiências, como foi o caso singular do trabalho relacionado com a temática da Educação, da Inclusão do Autismo e as Leis, apresentado por Elizabete Albuquerque, que também é mãe de autista, sobre o título muito feliz de “Os Vários Olhares Sobre a Inclusão”. Apresentação que suscitou amplo debate, onde aspectos como normalidade, inclusão, aceitação da diferença, foram exaustivamente dissecados e alçados ao nível de significantes mestres.

Nessa primeira semana do curso, Luiz Carlos Pinto Bueno, membro do ACPOL, articulou num texto intitulado “Singularidade, uma especificidade do Autismo”, aspectos fundamentais da visão psicanalítica do Autismo, e elementos determinantes a serem considerados nessa batalha que ora se faz. A questão da singularidade mexeu fortemente com os participantes e sensibilizou uma mãe de filho autista, que prestou um longo depoimento, emocionado, sobre a Via Crucis que teve que percorrer, e ainda percorre, no sentido da educação, da inclusão na escola, da não aceitação da diferença, da relação com a “normalidade” que ainda se impõe como modelo ideal e impacta significativamente, de forma negativa, no desenvolvimento da criança autista.

Oferecendo uma visão geral da questão, Gleuza Salomon, coordenadora do ateliê, abordou a origem do conceito do Autismo no diálogo entre Freud e Bleuler, a cisão na esquizofrenia, o autoerotismo, a descrição de Leo Kanner e sua noção de “autismo infantil precoce”, como especificidade clínica, a partir de seu artigo “Distúrbios autísticos do contato afetivo”, de 1943. Avançou no tempo passando por Margaret Mahler, Bruno Bettelheim, Frances Tustin e o ponto de vista desenvolvimentista. Discorreu sobre o ser-falante, sobre o mutismo, o modo verboso, a lalação, sobre o balbucio que se nutre na primeira infância da infinita repetição de sons, chamada lalíngua, num gozo sem fim, sem limites. Considerou a intrusão da linguagem que comporta um sacrifício de gozo, e a voz como objeto perdido, que, portanto, se diz áfona.

Elucidou a visão fenomenológica do Autismo e a marca da ausência fortemente observada nos autistas: eles não falam, não demandam, eles sugerem não possuir visão especular (não se reconhecem diante do espelho), o que sinaliza a possibilidade de tratar-se de sujeitos não constituídos.

Gleuza informou que o significante um, segundo Miller em 1,2,3,4, apresenta o sujeito como falta-a-ser, dividido entre a falta a ser e o não sentido, que é para Lacan o sujeito do inconsciente. Essa primeira escolha do significante um, já indica que o sujeito escapou da petrificação. Essa petrificação suportaria, em parte, a ideia confusa do autismo. Para Rosine e Robert Lefort, psicanalistas franceses que se dedicaram a clínica infantil, a petrificação é dada ao sujeito, por um significante de não-sentido, como no caso Robert, e o esforço da terapia, seria no sentido de se obter uma alienação do sujeito.

Outro fenômeno considerado por Miller é o de retorno à petrificação, que ocorre quando o sujeito vai ao campo do Outro e se desencanta. O sujeito busca, em curto-circuito, reencontrar a petrificação. É uma escolha do significante mestre, que seria como se tocar sempre, uma nota só, sendo essa nota a iteração do Um. Como fala Miller em 2011, sobre o Um só, o significante repete o gozo. No sintoma da ecolalia lê-se a repetição de uma fala, cujo significado nem sempre é compreendido pelo sujeito. Onde o significado do que diz, é o modo como responde a Um Real que lhe é próprio.

O Curso de extensão trabalhará os registros do Real, Simbólico, Imaginário, a partir de Lacan, em seu O Seminário: livro 3, as psicoses, utilizando os matemas, gráficos e esquemas, para transmitir o movimento de constituição do sujeito via alienação e separação e demonstrar que em psicanálise não há psicogênese: no autismo pode-se dizer que encontramos uma parte do sujeito na alienação, sem ter passado pela separação. O sujeito advém, é produzido pela articulação mínima do significante, é lógica pura. “Não é a alma que pensa. É o homem que pensa com sua alma, quando a fala passa pelo corpo e, no retorno, afeta o corpo que é seu emissor (Aristóteles, Anima).”

Localizará o lugar da psicanálise diante da epidemia do autismo contemporâneo. Esta epidemia que revela a crise atual do instrumento globalizado da clínica psiquiátrica e neurológica, do DSM - Manual de Diagnóstico Estatístico Mundanizado. Diante da progressão epidêmica do autismo que provoca o Mal-Estar nas classificações da clínica empírica e biológica do DSM. Acentuará o seu lugar na pluralidade de ações, na interface com os interlocutores provenientes dos múltiplos saberes, visando possibilitar que cada criança elabore, com seus pais e cuidadores, um caminho próprio, para prossegui-lo na idade adulta.

Elucidará o nascimento da psicanálise como uma resposta ao discurso da ciência contemporânea, sua contribuição à psicopatologia e à clínica.

Na psicanálise a escuta, a fala e o amor, recursos inerentes à transferência, são os instrumentos fundamentais na prática da clínica analítica. O autismo enquanto categoria clinica se encaixa aí, na medida em que há um consenso entre os especialistas de que a causa do autismo é ignorada: nem a desadaptação da aprendizagem, nem as disfunções no tratamento da informação, nem o desejo inconsciente dos pais, nem a genética, são capazes de explicar a sua gênese, a sua origem.

O método ABA se limita essencialmente a abordar comportamentos, se dedica em normatizar, sem buscar penetrar nas causas, nas funções respectivas destes e sem se preocupar com a vida afetiva do autista. O método TEACCH se apoia essencialmente no funcionamento cognitivo do autista e suas técnicas se fundamentam explicitamente nisso. A abordagem psicanalítica é a mais heurística porque não deixa de lado nenhum aspecto de funcionamento do ser humano.

O curso de extensão “O que o Autismo pode nos ensinar, em sua segunda semana, teve como conferencista a ilustre participação da Pós Doutora e membro da AMP e EBP, Ana Martha Wilson Maia, que brilhantemente desenvolveu dois encontros intitulados “O Autismo e seus pais. Uma leitura clínica” e “O Autismo e seus pais. Tratamento sob medida”. A mobilização em torno dos temas e da apresentação, por parte do público, foi tão surpreendente que ao final ela foi aplaudida, calorosamente, pelos participantes. A Ana Martha participou também do debate efetuado após a apresentação do filme Outras Vozes, de Ivan Ruiz, onde ela teve uma influente participação.

Na terceira semana do curso, nos dias 29 e 30 de outubro o filme A céu aberto, de Mariana Otelo, sobre o Courtil, foi projetado na Cinemateca de Curitiba e suscitou um excelente debate, com efetiva participação e discussão envolvendo pais de autistas, professores e profissionais das áreas da saúde e educação.

A programação do curso será retomada no mês de Dezembro. Ocorreu interrupção dos encontros em função da greve na UFPR, local onde os trabalhos estão sendo realizados.

Para esta parte do curso a Doutora em ciências médicas, Maria Virginia Filomena Cremasco, diretora do Departamento de Psicopatologia da Universidade Federal do Paraná, proferirá a conferência “Autismo é deficiência”?


O Professor doutor Guilherme Gontijo Flores ministrará a conferência intitulada “Entre Deus e a Dieta: origens psicopatológicas em Robert Burton.

Luiz Carlos Pinto Bueno. Membro do ACPOL- INSTITUTO LACAN- EBP