Por Iván
Ruiz.
3 de Outubro, 2015
Irá te
surpreender que me dirija a você com o qualitativo prudente. Ao educador
prudente. É isso, a prudência, o que se espera realmente de sua função? Não é o
educador aquele que se antecipa com seu desejo à aparição de um sinal de
interesse? Sim, se conveio chamar a isso ato educativo. Mas, se se trata de um
ato, de uma decisão tomada desde a antecipação, onde fica a prudência?
Você
pontua com acerto que no título que escolhemos para o próximo Fórum sobre o
autismo há um abuso dos termos empregados. Pensamos bem antes de denominar o
autista insubmisso? Tinha razão, lançar uma pergunta é também, de algum modo,
afirmar o que se questiona. Então, se chamamos o autista de insubmisso, vai nos
pedir uma justificativa precisa.
Adverte
que a educação não está brigada com o autismo, mas tampouco desconhece que não
é tarefa fácil fazer seu trabalho sem a cumplicidade de que deve aceitá-lo. Da
mesma forma, o senso comum não serve se se trata de avaliar o grau de
satisfação de seu educando. Quem cala, outorga converte-se para o chamado
autista numa traição da língua a seu não silencioso.
Você nos
esclarece que no seu cotidiano o autista de manual não existe. Que cada pessoa
com autismo é claramente diferente de qualquer outra. Para que, então, os
protocolos para todos os autistas? Permitirá que não me refira aqui às
verdadeiras razões, pois são de outra ordem. Mas, de fato, é por isso que nós
falaremos de autismo, mais que de autistas.
E
acrescenta, aproveitando a ocasião, que o fórum chama ao debate. Com certeza, a
urgência na qual se encontra nos leva a promover um debate com o fim de fazer
aparecer o mal-estar dos educadores, dos docentes, dos acompanhantes, dos
familiares que, prudentes, conhecem os limites de sua ação. O discurso
educativo não precisa de reflexão para seguir funcionando. Mas, se não se
conhecem os limites de sua ação, tampouco os efeitos que produza vão ser localizáveis.
Ser
prudente não significa não fazer nada. A educação deve tornar-se permeável a
cada sujeito, você nos diz. De fato, mas o que fazer no campo do autismo,
quando é o sujeito quem não é permeável a essa educação? Desta maneira, a
reeducação, como suspeita, não é a resposta desesperada ao fracasso do
educativo? Deveremos assim estar atentos ao que nos revela sua prudência. E nos
somaremos, então, ao elogio de Baltasar Gracián: “Oh, grande mestre aquele que
começava a ensinar desensinando! Sua primeira lição era de ignorar, que não
importa menos que o saber.”
Ah! Como
bom observador, não deixou escapar que me faltou falar sobre a insubmissão! Se,
afinal, o chamado autista é um insubmisso da educação, como fazer para não
idealizar esta posição? Por outro lado, alguns autistas obtiveram um
reconhecimento social que tornou desejável sua solução para outros. Por que ser
diagnosticado de Transtorno de Espectro Autista se poderia se obter a
catalogação de De alto rendimento?
Você deve
ter tido notícia do mundo de imagens e palavras que Owen Suskind criou com os
filmes da Disney. A isto, o chamamos, os psicanalistas, a solução encontrada
por um sujeito para sustentar-se no mundo. Entretanto, isso não é exportável,
por exemplo, para aqueles que veem uma e outra vez fragmentos escolhidos dessa
mesma fabrica. Converter a solução de Owen num método é um erro, do mesmo modo
que descartar outras soluções não tão exitosas é uma nova forma de segregação
no interior mesmo das instituições.
Mas, de
acordo, tomamos suas precisões com bastante consideração: É o rechaço, no
autismo, uma posição sem nuances nem fissuras? O chamado autista rechaça tudo
ou podemos, como diz, considerar algo do que ele faz como se de um convite a
estar com ele se tratasse? E, finalmente, a insubmissão não implica de fato a
existência de um outro frente ao qual não ser submisso?
Vamos
trabalhar suas perguntas. Faremos isso no dia 11 de dezembro em Barcelona, no Fórum
que estamos organizando no Auditório Axa, e também, desde já, no Caderno do
Fórum, que lançamos hoje.
Permita-me
agregar algo: Talvez tenhamos que concordar que o isolamento dos demais, que se
supunha no autismo, não é senão uma rejeição à submissão ao outro com a que o
sujeito interpreta tudo o que é educativo. É claro, deveríamos ter chamado esse
fórum de Convenção, pois é o que esperamos obter dos que, como você, estejam
presentes nesse dia: Alguns dos princípios que deveriam reger o convite de
levar o autismo ao educável. Sua prudência, educador, já é um destes princípios.
Iván Ruiz
Co-director del Foro sobre autismo 2015
Escuela Lacaniana de Psicoanálisis
Co-director del Foro sobre autismo 2015
Escuela Lacaniana de Psicoanálisis
Tradução: Anna Carolina Nogueira