Vanessa Carrilho dos
Anjos Brandão
A IV edição da
Jornada do MPASP - Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública
nos trouxe debates instigantes, que marcam o objetivo de manter em movimento as
discussões que perpassam este campo.
No primeiro dia,
palestrantes abordaram o cuidado na primeira infância e as contribuições da Psicanálise nas Políticas Públicas. Na mesa intitulada: "Laço Social na escola e no trabalho", os participantes trouxeram a mais
nova Lei Brasileira de Inclusão Social, para esquentar o debate.
Já no segundo dia do
evento, além da apresentação de pôsteres, houve uma Mesa sobre a Intervenção Precoce
e a Interdisciplinaridade no tratamento dos autismos. As Mesas sobre
"Epidemia" e "Medicalização" promoveram uma rica discussão
a respeito do excesso de diagnósticos e a hegemonia dos manuais de classificação psiquiátrica, como o recém lançado
DSM-V, além de diversas
dimensões do processo de medicalização e patologização e a influência na produção de subjetividades. Vale ressaltar que
dela fizeram parte psiquiatras da rede e pesquisadores.
De todas as experiências apresentadas, dois filmes despertaram emoção. O primeiro, de Pâmela Perez, trouxe ao evento o caráter real do autismo narrado por pais de
pacientes de um CAPs. Suas dificuldades
deram lugar à invenção, estar no mundo através de passeios organizados pela oficina, técnicos e familiares. Ouvimos testemunhos
marcados pela dor, sofrimento, mas também referências ao acolhimento, respeito e superação.
O outro filme, de
Renato Barreto, pai de uma criança autista, surpreendeu. Sua formação na área tecnológica e de animação, aliada ao desejo de
possibilitar que o filho entrasse no mundo de sua forma singular, deu vida a um
aplicativo para smartphones e tablets, com o objetivo de facilitar a
aprendizagem e comunicação de sujeitos autistas. Lúdico e encantador.
Em meio à criações, invenções,
transmissões e articulações, o
evento ainda contou com uma exposição fotográfica de Pâmela Perez, que usou suas lentes com muita sensibilidade para captar cenas
da "loucura" que retratam a intensidade da luta antimanicomial e o
atual momento político que
ameaça o avanço alcançado com a Reforma Psiquiátrica.
Como participante do
laboratório "A criança entre a mulher e a mãe" (CIEN-Rio)
e do Seminário "Autismo
e Psicose infantil - da clínica à política, e retorno", foi bastante interessante
preparar um trabalho para essa jornada. Apresentamos casos de autismos que
tiveram saídas
surpreendentes, o que para além de contribuir para o evento, me pareceu motivador. Acredito que a jornada
deu vez e voz ao autismo e aos profissionais que trabalham e estudam o tema,
permitindo maior força e
movimento dentro das Políticas
Públicas.
É para garantir o
respeito as singularidades e o movimento em torno da Saúde Pública de qualidade, que seguimos na luta!
Essa é a mensagem que fica.