Por ocasião do X Congresso da AMP, na Assembleia Geral do dia 29 de
abril de 2016, foi realizada a Grande Conversação da Escola Una. Uma das mesas
abordou o tema dos autismos e recolhemos aqui as intervenções de três colegas
da EBP/AMP:
Heloisa Teles
Gostaria de retomar o que Wilma Coccoz nos propõe em seu relatório:
Que, “na atualidade, a batalha pela psicanálise toma o nome de autismo”. Um
fato parece elucidar isto: em 2012, cerca de cem instituições de psicanálise do Brasil, das mais variadas orientações,
se reuniram em um movimento que nasceu em decorrência de dois acontecimentos: a possibilidade de
fechamento de um serviço universitário público orientado pela
psicanálise e uma medida do governo do Estado de São Paulo que restringia, em
licitação, o atendimento aos autistas ao método das TCCs. Este movimento tem o
nome MPASP: Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública e, em sua essência, se constitui em uma luta pelo direito à diversidade, pelo direito de escolha do
atendimento e pela defesa da psicanálise. Participar deste Movimento, ao lado
de outras orientações em psicanálise, tem sido um aprendizado, sobretudo por
permitir ver os efeitos que a orientação lacaniana pode produzir. Neste
sentido, cabe destacar os efeitos produzidos pelos filmes “A céu aberto” e “Outras vozes” (que foi lançado no
Brasil em 2015, no Rio, em uma Jornada do MPASP), projetados em todo o Brasil
por uma iniciativa da EBP. Concluindo, penso que a nossa batalha pela Psicanálise,
que tem a batalha do autismo como paradigma, é e deve seguir sendo permanente.
Ana Martha Wilson Maia
Minha intervenção parte do que disse Domenico Cosenza: "o
analista não pode se identificar ao sujeito suposto saber".
Já há algum tempo, tenho participado deste Movimento a que Heloisa se
referiu, o MPASP. Há dois anos estou no Grupo Gestor, o que vem me
possibilitando ampliar a visão de um contexto político articulado à clínica,
com diferentes abordagens. Iniciamos como uma resposta aos dois acontecimentos,
como contou Heloisa, e de lá para cá temos trabalhado também em torno de outros
temas que se referem aos autismos, mesmo que de forma menos direta, como por
exemplo a Maioridade Penal, o Marco da Primeira Infância, entre outros.
Assim, na direção do que Cosenza colocou sobre o analista e o saber,
digo que a "batalha do autismo" (na expressão de Laurent) é uma
batalha com relação às políticas públicas governamentais e tudo o que isto
implica. É uma batalha no trabalho com os pais como parceiros, inclusive
esvaziando a ideia de que são culpados pelo autismo do filho. É uma batalha com
relação aos métodos de aprendizagem, como o ABA, que impõem um saber prévio ao
sujeito autista, não abrindo espaço para o que chamamos de "tratamento sob
medida". E acrescento, também, a batalha para diferenciar a psicanálise
das psicoterapias que, embora se utilizem de significantes que fazem parte da
orientação lacaniana (como exemplo, "prática entre vários") propõem
avaliações e métodos para o tratamento de maneira muito parecida com as TCCs,
quando apostam na prevenção e no trabalho pela via da maternagem.
Paula Pimenta
Gostaria de ressaltar a importância das trocas sobre nosso trabalho de
"formiguinhas" nas atividades externas de que participamos e os
efeitos observados. Demarco também a importância de se afirmar que partimos de
bases epistemológicas diferentes quanto à TCC,
por exemplo, o que faz ressalvas quanto a comparações ponto a ponto. (Participo
com alguma frequência de mesas redondas
com colegas TCCs e vejo que a psicanálise é mais escutada quando se apresenta assim. Tenho até uma tabela
comparativa que criei para elucidar esse item). É importante nos servirmos da
aceitação "científica" da Affinity Therapy para nos apresentarmos com
uma prática (anterior) na mesma direção de escuta do sujeito e seu interesse
original (= seu trabalho de regulação do Outro).