Por Anamaria Vasconcelos
Ana Martha Maia, psicanalista, membro da EBP/AMP, publica na revista Grandes Temas do Conhecimento - Psicologia , nº 33 - Especial Autismo, o artigo " Asperger - um dos nomes do autismos".
Em uma linguagem clara, sem perder a precisão conceitual, o artigo aborda a posição da psicanálise de Orientação Lacaniana sobre um tema tão atual como controverso que é o autismo. É ilustrado por exemplos retirados de três filmes que muito nos ensinam sobre o autismo, a saber: " Autism is a world", " Temple Grandin" e " Outras vozes".
Como introdução, a autora mostra que o autismo se tornou um problema de saúde pública, tendo em vista o elevado número de crianças hoje assim diagnosticadas. Os crescentes índices são alarmantes, uma vez que em poucas décadas é triplicado o número de incidência de crianças nessa categoria diagnóstica. Considerando essa quantificação, Ana Martha Maia faz interrogações preciosas sobre os critérios diagnósticos que hoje tem sido adotados, bem como a função desse diagnóstico.
“Ter um corpo” implica um processo que envolve o uso da linguagem. Para uns tantos, isso é tão angustiante que chega a repercutir em um modo próprio de lidar com a linguagem, assim como, com o estabelecimento dos laços sociais.
Nem tudo é Asperger – com a expressão de um rapaz do filme “Outras vozes”, a autora abre uma reflexão histórica e etimológica do termo autismo, bem como o surgimento da síndrome de Asperger na nosografia psiquiátrica. Localiza seu surgimento até sua eliminação enquanto diagnóstico na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM - V, em que está inserido como parte do Transtorno do Espectro Autista.
Diferença e segregação - outra expressão com que a autora interroga o que se tem feito em nome de uma inclusão. O uso do termo “autismos”, no plural, justifica a autora, é um assinalamento que há o singular em cada autismo e, por conseguinte, um modo único de ser naqueles assim diagnosticados. Descobrir e fortalecer o jeito próprio de viver de cada criança é ajudar ao surgimento do sujeito, um trabalho delicado que exige uma escuta atenta sustentado por uma formação teórica do psicanalista. Do mesmo modo, caminhar ao lado dos pais, ajudando-os a relançar um futuro para seus filhos, só é possível se nos dedicarmos a aprender o que o autista nos ensina sobre suas possibilidades e suas paixões pelos objetos. O respeito a esses objetos, considerá-los na direção do tratamento, é fundamental para a Orientação Lacaniana.
Banho de Linguagem - a partir de Lacan, Ana Martha nos fala como se dá o encontro com a palavra e suas repercussões. É com essa compreensão que afirma o autismo como uma posição do ser.
A borda corporal é aquilo que constitui as possibilidades de haver corpo, dentro e fora , um Outro. Ela poderá ser constituída quando o significante toca o real do corpo, produzindo um furo.
Ana Martha "Caetaneando" nos lembra que " cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." Portanto não há espaço para imposições de modo de ser, sigamos na Batalha do Autismo.
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