CRÔNICA de Éric Laurent
Autismo: educação, aprendizagens e comportamentos
Má semana para o HAS.
Depois das reações muito fortes de todas as associações profissionais, sem contar as dos “think tank”” do meio psi, o Conselho de estado , no dia 20 de marco, “ordenou à HAS que anule sua recomendação sobre o tratamento medicamentoso do diabetes de tipo 2, considerando que as regras de gestão de conflitos de interesses dos peritos não foram respeitadas”.
Em 24 de março, sob a rubrica “ideias”, o jornal Le Monde publicou um artigo de Gabriel Bernot, que se apresenta como autista e membro da associação “Espectro autistico, distúrbios que invadem o desenvolvimento – Internacional (Satedi)”. Esse artigo comenta as “Recomendações” do HAS de um ponto de vista singular. Começa distinguindo de modo global dois campos, que chama de lobby, definidos a partir da psicanálise. O lobby pro e o lobby anti-psicanalise. Ele acrescenta a seguir a analise geralmente admitida: o HAS privilegiou o lobi anti-psicanalise e essas recomendações vem a reconfigurar a pedopsiquiatria francesa recomendando para os sujeitos autistas as intervenções fundadas sobre a educação e não sobre o tratamento.
O que quer dizer então educação? O HAS faz uma equivalência estrita entre educação e métodos educativos comportamentalistas. É a questão que lhe foi colocada pela Federação de ajuda para a saúde mental. A FSAM Croix-marine, em um comunicado de imprensa a 16 de março: “Será necessário para tanto, que o HAS privilegie um método educativo a ponto de se fazer porta-voz dele, retomando os próprios termos utilizados nos manuais de suporte do método ABA”. Outros sublinham esse ponto mais brutalmente. O HAS se fez representante do método ABA na França. Gabriel Bernot vê nisso uma Instrumentação das demandas das associações de pais pelo “lobi anti-psicanalise”, quer dizer o comportamentalismo. “Os pais cedem à falsa promessa de conformar seus filhos a seu desejo de “perfeição”, permitindo ao lobi de manobrar a prerrogativa legal dos pais”. A conversação publicada por l’Express.fr., depois da conferencia de imprensa de 8 de marco entre o Presidento do HAS, o professor Jean-Luc Harousseau, e a representante das associações de pais vai nesse sentido. O Presidente lamenta não haver podido marcar mais a mudança e encoraja as associações, do seguinte modo: “cabe a vocês o movimento”. Gabriel Bernot contabiliza as despesas em jogo nesse deslizamento do tratamento para a educação comportamentalista: “esses métodos representam um mercado entre 15 e 42 milhares de euros por ano”. Esse numero provavelmente é obtido tomando o custo médio anual de um tratamento, (60.00euros) pelo numero dos sujeitos autistas a educar segundo as categorias HAS. A importância das somas é, com efeito, gritante se é colocada em relação com a miséria dos créditos atribuídos face à pedo-psiquiatria e suas instituições assim como face às restrições de lugar postos de todas as ordens.
Mas sobretudo, é enquanto autista que Gabriel Bernot se insurge contra a identificação da educação e dos aprendizados comportamentalistas. Ele, que só recebeu o diagnostico de autista tardiamente, nos diz ele, pode assim escapar ao que lhe seria prescrito autoritariamente como “educação”. Ele almeja um aprendizado por imersão no saber e não um protocolo já determinado de aprendizagens simples. Em nome dessa mesma imersão, Gabriel Bernot critica o lobi pro psicanálise que “detém a maior parte das “instituições para autistas” por manter os autistas fora do saber e denuncia “o desserviço intelectual imposto por ele às crianças” “tempo de errancia” “ espera de que emerja o desejo de aprender da criança” etc.,criando precisamente “essa vivencia interior desértica”. Em 2004, essas derivas justificaram a condenação da France pelo Conselho da Europa por “ faltar com o dever de educação das crianças autistas”. Ele preconiza a solução de deixar o autista escavar seu caminho a seu modo, dentro da escola, e de poder participar no processo de decisão sobre os programas que seriam aplicados aos autistas. “Permitir às pessoas autistas se desenvolverem, ou à aquelas que se desenvolveram a se expressar mataria a galinha dos ovos de ouro... O HAS parece ter preferido privilegiar os interesses dos “cuidadores” em detrimento tanto do Estado quanto dos pacientes”. Toma o partido dos autistas de alto nível, cujo programa já vimos desenvolvido pela canadense Michelle Dawson. Podemos resumi-lo por um: “Deixem-nos aprender do nosso modo, deixem-nos nossos comportamentos autisticos singulares até que se demonstre que eles nos impedem de aprender e dêem-nos voz no capitulo em todos os níveis.” Isso se aplica mais facilmente para os autistas de alto nível, ou Asperger, mas os partidários querem ouvi-lo em toda extensão do “espectro”. Pode-se ver a aposta colocada pela inclusão ou não desses sujeitos numa mesma categoria que aqueles que estão atingidos pela síndrome do “frágil”, ou aquelas que o são pela síndrome de Rett.
O programa internacional de educação dos autistas, de alto nível, produz na Franca uma conseqüência inesperada. O fato para o HAS de editar recomendações sobre “intervenções educativas” e portanto de decretar o que educar quer dizer, corre o risco de ser abuso de poder. ” Ela preferiu correr um risco de abuso de poder, incluindo as competências em matéria de educação que vem das prerrogativas do Conselho superior de educação, para proteger os interesses dos profissionais do tratamento. Num empreendimento similar, a HAS publicou em 2009-2010 trabalhos abordando a educação lingüística de crianças surdas, enquanto que o ensino da “linguagem dos sinais” vem do Conselho superior da educação”. A importância do contexto do risco “de abuso de poder” já foi sublinhado por François-R. Dupond Mozart.
Mais alem podemos pensar que as questões colocadas pela redução da educação a aprendizagens comportamentais ultrapassa o campo do cuidado e/ou do handicap. Existe já uma concepção geral da educação como aprendizagem que tenta, nos USA se apresentar com solução às dificuldades do sistema educativo primário e secundário. Não se trata mais de conceber a educação como um movimento em direção ao saber, mas sim de decompor todo o saber em segmentos repetitivos simples, e de os fazer repetir por vezes suficientes estimulando sem cessar a repetição. A hora do ensino não é mais o lugar do curso seguido de perguntas para assegurar a compreensão dos alunos mas é uma constante repetição décor de uma palavra de ordem lançada pelo educador. Todos os programas de todas as matérias podem ser assim formatados sob a forma de guia comportamental. Os resultados são, bem entendido, avaliáveis em qualquer momento. Como nas técnicas comportamentais, em seu conjunto, tenta-se apagar a dificuldade dos alunos submetidos a esse regime de poder mecanicamente aprendido em contextos novos. um ce ao saber, mas sim os comportamentalistas em seu todo, tentaram apagar a dificuldade, dos alunos submetidos a esse regime de poder, em fazer uso do saber mecanicamente aprendido em contextos novos. Para bons resultados de avaliação, é suficiente manter o protocolo de avaliação muito próximo do contexto de aprendizado. O programa de reforma escolar do Presidente Bush “No child left behind” se inspirou no método. As organizações profissionais persuadiram a administração Obama a voltar a essa orientação e a colocar de novo o acento sobre a interação dinâmica professor/aluno, modulável e adaptável à situação. Os métodos comportamentais, escorraçados pela porta querem voltar pela janela adaptando-se aos alunos “com dificuldades particulares”. Percebemos assim uma educação com duas doutrinas, quando não com duas velocidades.
A perspectiva nova na qual vem se inscrever a tendência à substituição do tratamento pela aprendizagem comportamental e a educação reduzida a isso não vai parar de colocar questões sobre a impossibilidade desse recobrimento. Encontraremos sem dúvida outras ocasiões de partilhar a oposição firme ao programa internacional dos autistas de alto nível a essa falsa sinonímia. Aprender não pode se reduzir a um comportamento. Os debates entre Alain Connes e Jean-Pierre Changeux, e depois Stanislas Dehaene, sobre o que quer dizer aprender as matemáticas dão testemunho disso com um vigor sempre renovado.