terça-feira, 9 de abril de 2013


CRÔNICA de Éric Laurent

Autismo: educação, aprendizagens e comportamentos

Má semana para o HAS.


Depois das reações muito fortes de todas as associações profissionais, sem contar as dos “think tank”” do meio psi, o Conselho de estado , no dia 20 de marco, “ordenou à HAS que anule sua recomendação sobre o tratamento medicamentoso do diabetes de tipo 2, considerando que as regras de gestão de conflitos de interesses dos peritos não foram respeitadas”.

Em 24 de março, sob a rubrica “ideias”, o jornal Le Monde publicou um artigo de Gabriel Bernot, que se apresenta como autista e membro da associação “Espectro autistico,  distúrbios que invadem o desenvolvimento – Internacional (Satedi)”. Esse artigo comenta as “Recomendações”  do HAS de um ponto de vista singular. Começa distinguindo de modo global dois campos, que chama de lobby, definidos a partir da psicanálise. O lobby pro e o lobby anti-psicanalise. Ele acrescenta a seguir a analise geralmente admitida: o HAS privilegiou o lobi anti-psicanalise e essas recomendações vem a reconfigurar a pedopsiquiatria francesa recomendando para os sujeitos autistas as intervenções fundadas sobre a educação e não sobre o tratamento. 

O que quer dizer então educação? O HAS faz uma equivalência estrita entre educação e métodos educativos comportamentalistas. É a questão que lhe foi colocada pela Federação de ajuda para a saúde mental. A FSAM Croix-marine, em um comunicado de imprensa a 16 de março: “Será necessário para tanto, que o HAS privilegie um método educativo a ponto de se fazer   porta-voz  dele, retomando os próprios termos utilizados nos manuais de suporte  do método ABA”. Outros sublinham esse ponto mais brutalmente. O HAS se fez representante do método ABA na França. Gabriel Bernot vê nisso uma Instrumentação das demandas das associações de pais pelo “lobi anti-psicanalise”, quer dizer o comportamentalismo. “Os pais cedem à falsa promessa de conformar seus filhos a seu desejo de “perfeição”, permitindo ao lobi de manobrar a prerrogativa legal dos pais”. A conversação publicada por l’Express.fr., depois da conferencia de imprensa de 8 de marco entre o Presidento do HAS, o professor Jean-Luc Harousseau, e a representante das associações de pais vai nesse sentido. O Presidente lamenta não haver podido marcar mais a mudança e encoraja as associações, do seguinte modo: “cabe a vocês o movimento”. Gabriel Bernot contabiliza as despesas em jogo nesse deslizamento do tratamento para a educação comportamentalista: “esses métodos representam um mercado entre 15 e 42 milhares de euros por ano”. Esse numero provavelmente é obtido tomando o custo  médio anual de um tratamento, (60.00euros) pelo numero dos sujeitos autistas a educar segundo as categorias HAS. A importância das somas é, com efeito,  gritante se  é colocada em relação com a miséria dos créditos atribuídos face à pedo-psiquiatria e suas instituições assim como face às restrições de lugar postos de todas as ordens.

Mas sobretudo, é enquanto autista que Gabriel Bernot se insurge contra a identificação da educação e dos aprendizados comportamentalistas. Ele, que só recebeu o diagnostico de autista tardiamente, nos diz ele, pode assim escapar ao que lhe seria prescrito autoritariamente como “educação”. Ele almeja um aprendizado por imersão no saber e não um protocolo já determinado de aprendizagens simples. Em nome dessa mesma imersão, Gabriel Bernot critica o lobi pro psicanálise que “detém a maior parte das “instituições para autistas” por manter os autistas fora do saber e denuncia “o desserviço intelectual imposto por ele às crianças” “tempo de errancia” “ espera de que emerja o desejo de aprender da criança” etc.,criando precisamente  “essa vivencia interior desértica”. Em 2004, essas derivas justificaram  a condenação da France pelo Conselho da Europa por “ faltar com o dever de educação das crianças autistas”. Ele preconiza a solução de deixar o autista escavar seu caminho a seu modo, dentro da escola, e de poder participar no processo de decisão sobre os programas que seriam aplicados aos autistas. “Permitir às pessoas autistas se desenvolverem, ou à aquelas que se desenvolveram a se expressar mataria a galinha dos ovos de ouro... O HAS parece ter preferido privilegiar os interesses  dos “cuidadores” em detrimento tanto do Estado quanto dos pacientes”. Toma o partido dos autistas  de alto nível, cujo programa já vimos desenvolvido pela canadense Michelle Dawson. Podemos resumi-lo por um: “Deixem-nos aprender do nosso modo, deixem-nos nossos comportamentos autisticos singulares até que se demonstre que  eles nos impedem de aprender e dêem-nos voz no capitulo em todos os níveis.” Isso se aplica mais facilmente para os autistas de alto nível, ou Asperger, mas os partidários querem ouvi-lo em toda extensão do “espectro”. Pode-se ver a  aposta colocada pela inclusão ou não desses sujeitos numa mesma categoria que aqueles que estão atingidos pela síndrome do “frágil”,  ou aquelas que o são pela síndrome de Rett.

O programa internacional de educação dos autistas, de alto nível, produz na Franca uma conseqüência inesperada. O fato para o HAS de editar recomendações sobre “intervenções educativas” e portanto de decretar o que educar quer dizer, corre o risco de ser abuso de poder. ” Ela preferiu correr um risco de abuso de poder, incluindo as competências em matéria de educação que vem das prerrogativas do Conselho superior de educação, para proteger os interesses dos profissionais do tratamento. Num empreendimento similar, a HAS publicou em 2009-2010 trabalhos abordando a educação lingüística de crianças surdas, enquanto que o ensino da “linguagem dos sinais” vem do Conselho superior da educação”. A importância do contexto do risco “de abuso de poder” já foi sublinhado por François-R. Dupond Mozart.

Mais alem podemos pensar que as questões colocadas pela redução da educação a aprendizagens comportamentais ultrapassa o campo do  cuidado e/ou do handicap. Existe já uma concepção geral  da educação como aprendizagem que tenta, nos USA se apresentar com solução às dificuldades do sistema educativo primário e secundário.  Não se trata mais de conceber a educação como um movimento em direção ao saber, mas sim de decompor todo o saber em segmentos repetitivos simples, e de os fazer repetir por vezes suficientes estimulando sem cessar a repetição.  A hora do ensino não é mais o lugar do curso seguido de perguntas para assegurar a compreensão dos alunos mas é uma constante repetição décor de uma palavra de ordem lançada pelo educador.  Todos os programas de todas as matérias podem ser assim formatados sob a forma de guia comportamental. Os resultados são, bem entendido, avaliáveis em qualquer momento. Como nas técnicas comportamentais, em seu conjunto, tenta-se apagar a dificuldade dos alunos submetidos a esse regime de poder mecanicamente aprendido em contextos novos. um ce ao saber, mas sim  os comportamentalistas  em seu todo, tentaram apagar a dificuldade, dos alunos submetidos a esse regime de poder, em fazer uso do saber mecanicamente aprendido em contextos novos. Para bons resultados de avaliação, é suficiente manter o protocolo de avaliação muito próximo do contexto de aprendizado. O programa de reforma escolar do Presidente Bush “No child left behind” se inspirou no método. As organizações profissionais persuadiram a administração Obama a voltar a essa orientação e a colocar de novo o acento sobre a interação dinâmica professor/aluno, modulável e adaptável à situação. Os métodos comportamentais, escorraçados pela porta querem voltar pela janela adaptando-se aos alunos “com dificuldades particulares”. Percebemos assim uma educação com duas doutrinas, quando não com duas velocidades.

A perspectiva nova na qual vem se inscrever a tendência à substituição do tratamento pela aprendizagem comportamental e a educação reduzida a isso não vai parar de colocar questões sobre a impossibilidade desse recobrimento. Encontraremos sem dúvida outras ocasiões de partilhar a oposição firme ao programa internacional dos autistas de alto nível a essa falsa sinonímia. Aprender não pode se reduzir a um comportamento. Os debates entre Alain Connes e Jean-Pierre Changeux,  e depois Stanislas Dehaene, sobre o que quer dizer aprender as matemáticas dão testemunho disso com um vigor sempre renovado. 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Manifesto do Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública


Diante de tentativas recentes de excluir as práticas psicanalíticas de políticas públicas para o atendimento da pessoa com autismo, os profissionais de Saúde Mental, associados ao Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública vêm a público para afirmar seus princípios de ação e sua posição ética frente ao atendimento de pessoas com autismo e suas famílias.


1.              O Movimento considera que as famílias das pessoas com autismo devem ter o direito de escolher as abordagens de tratamento para seus filhos (em consonância com a portaria nº 1.820 do Ministério da Saúde, de 13 de agosto de 2009).
2.              O Movimento considera fundamental acompanhar e acolher a família, considerando-a como parceira fundamental no tratamento.
3.              O Movimento apoia e recomenda vivamente a pluralidade, a diversidade e o debate, científico e metodológico, das abordagens de tratamento da pessoa com autismo, e também dos critérios diagnósticos empregados em suas avaliações.
4.              O Movimento considera fundamental que o tratamento e a educação de pessoas com autismo levem em conta a singularidade do sofrimento da pessoa com autismo e de sua família.
5.              O Movimento considera que o principal objetivo do tratamento da pessoa com autismo é o estabelecimento de seu vínculo com os outros, ponto sobre o qual há consenso entre todas as abordagens de tratamento.
6.              O Movimento sustenta a inclusão de crianças com autismo em escolas regulares sempre que possível (e como opção prioritária), contando com uma rede de apoio interdisciplinar e intersetorial; a estruturação dessa rede implica a construção de um projeto educacional visando à aprendizagem da criança, na medida de suas possibilidades, bem como sua integração às atividades escolares.

Diante da importância de tratar e educar crianças e adultos com autismo de uma perspectiva que leve em conta a singularidade de seu sofrimento e de sua família, o Movimento propõe a adoção, em políticas públicas, das seguintes medidas:

1.     Ampliação do campo da detecção e da intervenção precoces diante de sinais de risco para o desenvolvimento infantil nos equipamentos públicos de saúde, educação e assistência social.
2.     Investimento na formação e capacitação de profissionais e na disseminação de conhecimentos, instrumentos e estratégias clínicas de detecção e intervenção precoce, com ênfase na atenção primária de saúde.
3.     Fortalecimento, nos serviços de saúde e educação, de perspectivas de atendimento que levem em conta a singularidade, ou a subjetividade da pessoa com autismo, por meio da atenção a suas manifestações próprias.
4.     Fortalecimento, nos serviços de saúde e educação, de perspectivas de atendimento que levem em conta a importância do estabelecimento do vínculo da pessoa com autismo com os outros.
5.     Disseminação dos conhecimentos a respeito da multicausalidade do autismo e ampliação do debate sobre a prevalência do diagnóstico em exames laboratoriais e de seu tratamento medicamentoso, denunciando a criação de falsas epidemias (como a multiplicação do diagnóstico de autismo na atualidade).
6.     Preservação, sem exclusão de nenhuma delas, das quatro dimensões que devem estar igualmente presentes no atendimento da pessoa com autismo: física (orgânica), mental (psíquica), social (relativa à cidadania) e temporal (a perspectiva do desenvolvimento).
7.      Adoção de  projetos terapêuticos singulares (PTS), bem como o acolhimento e o acompanhamento implicados (formulados pelo Ministério da Saúde em 2005).
8.     Apoio à implementação efetiva da Linha de Cuidado para Atenção às Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde.
9.     Sustentação e ampliação de redes intersetoriais e interdisciplinares de tratamento (com a presença dos setores da Saúde, da Educação, da Assistência Social, do Direito e da Justiça) que considerem as diferenças territoriais e locais, bem como a sustentação de projetos particulares e inovadores que vêm surgindo a partir delas.


O objetivo principal deste Movimento é o de tornar mais presente a Psicanálise, dadas as evidências de que suas práticas podem contribuir para a promoção da melhora da qualidade de vida da pessoa com autismo e de seus familiares.
O Movimento considera que a presença da Psicanálise nas instituições públicas de saúde e educação, nas instituições não governamentais, no setor privado, nas universidades, a acolhida da população em geral, bem como o apoio dado a ela pelos órgãos de fomento nacionais e internacionais de pesquisa, há mais de 70 anos, são manifestações de seu reconhecimento pela comunidade científica  e pela sociedade em geral.


Instituições participantes

Universidades:
FEUSP (professores: Leny Mrech, Rinaldo Voltolini, Leda Bernardino)
FMUSP (professor Wagner Ranna)
Grupo de estudo sobre a criança (e sua linguagem) na clínica psicanalítica - GECLIPS/UFUMG
IPUSP (professores Cristina Kupfer, Christian Dunker, Rogerio Lerner)
PUC /RJ (professora Beatriz Souza Lyma)
Psicologia PUC /SP (professores (Silvana Rabello, Isabel Khan)
Fono PUC/SP (professores Claudia Cunha, Luiz Augusto P. Souza, Regina Freire)
UERJ (professor Luciano Elia)
UFBA - ambulatório infanto-juvenil da Residência em Psicologia Clínica e Saúde Mental do Hospital Juliano Moreira/UFBA-SESAB (professora Andréa Fernandes)
UFMG (professora Angela Vorcaro)
Laboratório de Estudos Clínicos da PUC Minas (professora Suzana Faleiro Barroso).
UFPE (professora Joana Bandeira de Melo)
UFRJ (professora Ana Beatriz Freire)
UFSM (professora Ana Paula Ramos)
UnB (professores Izabel Tafuri, Marilucia Picanço)
Unesp Bauru (professores Edson Casto, Erico B. Viana, Cristiane Carrijo)
UNICAMP (Nina Leite)
Univ. Católica de Brasília (professora Sandra Francesca)
Setor de Saúde Mental do Departamento de Pediatria da UNIFESP
Centro de Referência da  Infância e da Adolescência  - CRIA/UNIFESP
DERDIC/PUCSP (professores Sandra Pavone, Yone Rafaele, Lucia Arantes e Carina Faria)
Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) (professora Paula Pimenta)

Instituições de Psicanálise

ALEPH - Escola de Psicanálise
Associação Psicanalítica de Porto Alegre -APPOA
Associação Psicanalítica de Curitiba- APC
Círculo Psicanalítico MG
Círculo Psicanalítico de Pernambuco CPP
EBP/SP (escola brasileira de psicanálise)
EBP/MG (escola brasileira de psicanálise)
EBP/RJ (escola brasileira de psicanálise)
Escola Letra Freudiana
Espaço Moebius/BA
Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano - Brasil (EPFCL-Brasil)
Fórum do Campo Lacaniano - São Paulo (FCL-SP)
GEP - Grupo de Estudos de Psicanálise de Campinas
IEPSI
Instituto APPOA
Instituto da Família – IFA/SP
IPB - Intersecção Psicanalítica do Brasil/NEPP
Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae (SEDES)
Departamento de Formação em Psicanálise do  Instituto Sedes Sapientiae (SEDES)
Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sapientiae (SEDES)
Espaço Potencial Winnicott do Depto. Psicanálise da Criança do  Instituto Sedes Sapientiae (SEDES)
Curso de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae (SEDES)
Núcleo de Investigação Clínica Hans da Escola Letra Freudiana
Sigmund Freud Associação Psicanalítica/RS
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo  (SBPSP)

NEPPC/SP

Centros de atendimentos não governamentais

Ateliê Espaço Terapêutico/RJ
Attenda/SP
Centro de Atendimento e Inclusão Social CAIS/MG
Centro de Atendimento Psicanalítico da SBPSP
Carretel - Clínica Interdisciplinar do Laço/SP
Carrossel/BA
Centro da Infância e Adolescência Maud Mannoni CIAMM
CERSAMI  de Betim
Centro de Estudos, Pesquisa e Atendimento Global da Infância e Adolescência - CEPAGIA/Brasília/DF
Clínica Interdisciplinar Mauro Spinelli/SP
Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem de Recife - CPPL
Escola Trilha
ENFF
Espaço Escuta de Londrina
Espaço Palavra/SP
GEP-Campinas
GLUBE/SP
Grupo Laço/SP
Grupo de Pesquisa CURUMIM do Instituto de Clínica Psicanalítica/RJ
Incere
Instituto de Estudo da Família INEF
Instituto Langage
Instituto Viva Infância
LEPH/MG
Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica
Centro Lydia Coriat de Porto Alegre
NIIPI/BA
NINAR – Núcleo de Estudos Psicanalíticos
NÓS – Equipe de Acompanhamento Terapêutico 
Projetos Terapêuticos/SP
Trapézio/SP
Associação Espaço Vivo/RJ

Centros de atendimentos do governo

Caps Pequeno Hans/RJ
Capsi Guarulhos/SP
Capsi Ipiranga/SP
Capsi Lapa/SP
Capsi Mauricio de Sousa/Pinel-RJ
Capsi Mooca/SP
CAPSI Taboão/SP
CAPSI de Vitória
CARM/UFRJ
NASF Brasilândia/SP
NASF Guarani/SP
UBS Humberto Pasquale/SP
Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica - COMPP/SES-DF
Capsi COMPP/SES-DF
Capsi Campina Brande/PB

Associações

ABEBÊ – Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê.
ABENEPI/Maceió
ABENEPI/RJ
ABENEPI/BSB
Associação Metroviária do Excepcional AME
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental
CRP/SP (conselho regional de psicologia)

Hospitais

Centro Psíquico da Adolescência e Infância da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (CePAI/FHEMIG)
CISAM/UPE - Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros – Universidade de Pernambuco
HCB(Hospital da Criança de Brasília)
Serviço de psicossomática e saúde mental do Hospital Barão de Lucena - HBL/ Recife
Hospital Einstein
IEP/HSC Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital de Santa Catarina
Hospital Pinel
Hospital das Clínicas – Universidade de Pernambuco

Revista
Revista Mente e Cérebro

Grupo de pesquisa
PREAUT BRASIL
Grupo de pesquisa IRDI nas creches

Des thérapies validées dans le plan contre l'autisme

Par figaro iconDelphine Chayet - le 01/04/2013 
 
Contre l'approche psychanalytique, le gouvernement entend enfin promouvoir des stratégies éducatives et comportementales.
 
Face à l'approche psychanalytique, qui demeure privilégiée dans la prise en charge de l'autisme en France, le gouvernement entend dorénavant promouvoir les thérapies validées scientifiquement. C'est tout l'objet du troisième plan autisme, dont les grandes lignes doivent être présentées ce mardi soir par la ministre déléguée aux Personnes handicapées. Marie -Arlette Carlotti s'appuie sur le rapport publié en mars 2012 par la Haute Autorité de santé (HAS), qui recommande une prise en charge fondée sur une approche éducative et comportementale. Si elles sont précoces, des interventions de ce type permettent d'améliorer le langage et les facultés cognitives des enfants, mais aussi de faire régresser les symptômes de l'autisme.

Troisième du genre, le plan interministériel porte sur la période 2013 à 2017. Il vise à remodeler l'ensemble de la prise en charge des enfants autistes: repérage dès l'âge de 18 mois, diagnostic, éducation renforcée et aide à la scolarisation. «Aujourd'hui, la situation est catastrophique dans notre pays, s'indigne Florent Chapel, délégué général du collectif autisme. Seuls 10 % des enfants bénéficient d'une prise en charge adaptée et vont à l'école. Les adultes sont, quant à eux, enfermés dans des hôpitaux psychiatriques et des centres, ou bien rendus à leurs parents sans aucun accompagnement.» Environ 100 000 jeunes de moins de 20 ans sont concernés en France.
Le plan vise tout d'abord à améliorer la détection des enfants autistes dès l'expression des premiers signes d'alerte, alors que le diagnostic n'intervient pour l'heure qu'à l'âge de 6 ans en moyenne. «Or on sait que plus la prise en charge est précoce, plus l'enfant a de chances de voir sa situation s'améliorer», observe Florent Chapel. Un vaste programme de formation des personnels de la petite enfance (puéricultrices, assistantes maternelles, médecins, éducateurs, enseignants…) doit donc être mis sur pied. Des informations sur l'autisme seront introduites dans les carnets de santé.

Le ministère veut par ailleurs constituer un réseau de diagnostic de premier niveau, en étoffant les équipes des centres d'action médico-social précoce et en les dotant du matériel de dépistage adapté. «Aujourd'hui, ces pôles se consacrent au dépistage de la surdité, mais ne sont pas suffisamment mobilisés pour repérer les enfants autistes», observe-t-on dans l'entourage de Marie-Arlette Carlotti. Les missions des centres de ressources autisme, qui pratiquent dans chaque région les diagnostics complexes, seront redéfinies sur la base des recommandations formulées par la HAS afin d'y limiter l'influence de la psychanalyse. Cette discipline qui, en France, se trouve au cœur de la prise en charge des autistes, décrit leur trouble comme une «psychose infantile» liée à un trouble de la relation entre l'enfant et ses parents. Au plan international, il existe au contraire un large consensus scientifique pour définir l'autisme comme un trouble neuro-développemental assimilable à un handicap, qui requiert une intervention spécifique. En 2010, la HAS a choisi de privilégier cette seconde approche. «Mais encore aujourd'hui, on continue à employer et à enseigner des méthodes inefficaces», s'indigne Daniel Fasquelle, député UMP du Pas-de-Calais, qui va jusqu'à demander l'interdiction de la psychanalyse dans le traitement de l'autisme.

Le gouvernement espère créer une dynamique vertueuse. D'ici à 2017, l'ensemble des structures agréées de prise en charge feront l'objet d'une évaluation portant sur le taux d'encadrement, comme sur le type de thérapie pratiquée. Celles qui accepteront de promouvoir les approches comportementales et éducatives verront leurs équipes formées et renforcées. Les autres s'exposeront à un retrait d'agrément.

A EBP e o Autismo: Notas atuais

por Paula Borsoi

A orientação lacaniana sustentada por JAM desde muitos anos promove para os analistas do Campo Freudiano um estilo de formação que nos coloca em constante renovação. Esta orientação promove uma articulação entre política e clínica, apostando no caso a caso e na singularidade da solução sinthomática de cada um, exigindo dos analistas que estejam preparados para enfrentar os desafios clínicos do nosso tempo, através de um trabalho sem padronizações. Esse movimento de tomada de posição tem na defesa da clínica psicanalítica dos autismos uma consequência importante. Recentemente a EBP, através da Comissão Autismo, recolheu contribuições de colegas todo o Brasil que trabalham esta clínica, redigiu e enviou um documento ao Ministério da Saúde em reposta a uma consulta pública, feita pela “Linha de Cuidado para Atenção Integral as Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo e seus Familiares”, no SUS. Neste documento, tomamos uma posição clara e aberta ao debate de como sustentamos e conduzimos nosso trabalho. Aproveito a oportunidade para convidar a todos a ler o documento no site da EBP (clique aqui).
A articulação com as políticas públicas é necessária e importante, pois se estamos nos serviços de saúde mental, nas escolas e nas universidades, é preciso que a Escola esteja participando de perto dessas formulações. Ainda há muito trabalho a realizar. Neste campo, o mais urgente é o trabalho com os pais e com as associações de pais de autistas. Os pais não são nossos adversários, mesmo que algumas vezes se coloquem assim. Com frequência a psicanálise e os psicanalistas sofrem ataques violentos, como foi o depoimento de um pai de um jovem autista publicado na Folha de São Paulo, semana passada, já comentado por Marcelo Veras no Um por Um 163.
O pai informado/mal informado, por ser jornalista e acompanhar esses ataques à psicanálise no mundo, provavelmente muito angustiado quanto ao tratamento de seu filho, fez um desabafo. Dizer alguma palavra em contraponto à angústia de um pai desafogada em um jornal me parece ser excessivo mas, ultrapassado o mal estar em relação aos ataques à psicanálise, podemos dizer algo.
Penso que nossa defesa deve partir de alguma aceitação de que essa experiência, de se sentir culpado, ou culpabilizado por ter um filho com severas dificuldades, veio de um mau encontro com a psicanálise. Acontece, pois sabemos que culpabilizar os pais ainda hoje não é incomum na psicanálise, mesmo que sejamos contrários a ela. Por isso, para ultrapassar esta barreira, precisamos afirmar claramente nossa posição. A partir de Lacan e do Campo Freudiano aberto por ele pedimos, sim, aos pais uma implicação no que lhes acontece. Isso significa, para nós, postular um movimento inconsciente, muitas vezes sem nenhum sentido, na incidência da relação parental sobre o sintoma do sujeito. Esta implicação é um percurso, que justamente promove o deslocamento da culpa à responsabilidade. Separar culpa de responsabilidade é a condição de possibilidade para cada um de assumir sua posição de sujeito. Encontrar o sujeito onde não se espera me parece ser o avesso do que propõem os que fazem da psicanálise sua adversária. Para eles já se sabe de antemão o que é possível para o sujeito, uma vez que imputa-se à deficiência um programa de desenvolvimento a ser alcançado.
Como transmitir então a proposta da psicanálise de orientação lacaniana aos pais? Essa é nossa questão e não se resume aos pais. Em nossa proposta encontra-se a intenção de ampliar as articulações da Escola com os diversos setores da sociedade, para contribuir com o debate com a ciência, com a cultura e principalmente para poder dizer como a experiência clínica singular de um sujeito e de sua relação com o inconsciente podem se transmitir a outros. Hoje, mais do que nunca, esse desafio é fundamental para manter a psicanálise viva no mundo.

Dia Mundial de Conscientização do Autismo

Hoje, dia Mundial de Conscientização do Autismo, é uma data representativa - criada pela Organização das Nações Unidas em 2007 - do que vem sendo discutido em relação ao autismo, assim como do lugar que lhe é reservado desde então em nível mundial. Poderíamos verificar, por exemplo, um artigo publicado hoje pelo jornal O Globo online que chama a atenção para um projeto de lei aprovado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro propondo ações para o diagnóstico precoce de autismo em creches do município, a saber:

http://oglobo.globo.com/educacao/dia-do-autismo-projeto-de-lei-preve-diagnostico-precoce-em-creches-8003590

Dia do Autismo: projeto de lei prevê diagnóstico precoce em creches

  • Texto, que também contempla unidades básicas de saúde do Rio, ainda aguarda sanção do prefeito Eduardo Paes
  • Professores podem aplicar questionário para identificar riscos de transtorno
Karine Rodrigues (Email · Facebook · Twitter)
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Matheus da Silva, de 13 anos, estuda na rede pública desde pequeno, mas ainda não é alfabetizado
Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Matheus da Silva, de 13 anos, estuda na rede pública desde pequeno, mas ainda não é alfabetizado Leo Martins / Agência O Globo
RIO - Um projeto de lei já aprovado pela Câmara de Vereadores do Rio, mas que ainda aguarda sanção do prefeito Eduardo Paes, institui ações de vigilância precoce do autismo nas crianças atendidas em creches e unidades da rede básica de saúde do município, especialmente na faixa etária de seis meses a dois anos.
A medida, se posta em prática, vai ser festejada nas duas caminhadas programadas para o próximo domingo (7), no calçadão do Leblon e em Sulacap, em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado nesta terça-feira (2). Também em homenagem à data, ainda hoje a Prefeitura do Rio vai iluminar de azul as fachadas do Cristo Redentor, da Catedral Metropolitana e da Câmara Municipal.

Segundo especialistas, a detecção do transtorno — que causa prejuízo na interação social e na aquisição da linguagem — nos anos iniciais traz ganhos consideráveis para o desenvolvimento para a criança, desde que a descoberta seja seguida de acompanhamento adequado, com tratamento terapêutico associado à escolaridade. Em reportagem publicada ontem no GLOBO, familiares de crianças autistas reclamaram da dificuldade em conseguir vaga em escolas regulares da rede pública e privada. Mãe de Matheus, de 13 anos, Célia da Silva, observou também que a matrícula, em geral, não determina uma inclusão de fato, por falta de infraestrutura e atendimento apropriado nas instituições de ensino.
A discussão sobre o projeto de lei 1090/2011, de autoria do vereador Paulo Messina (PV), resultou na criação de uma experiência-piloto. Iniciada em agosto do ano passado, a parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e a PUC-Rio - por meio da professora Carolina Lampreia, doutora em Psicologia Clínica – possibilitou a aplicação de um questionário em crianças atendidas nas creches municipais. O instrumento aponta riscos de desenvolvimento atípico, característica comum no autismo. Uma vez diagnosticadas, as crianças deverão ser cadastradas num censo único da Prefeitura. Não há dados nacionais sobre a incidência do transtorno no país. Sabe-se que a prevalência média internacional é de 1% da população.
Elaborado na Holanda, o questionário é constituído por 14 perguntas, que podem ser respondidas simplesmente com “sim” ou “não”. Os dados coletados foram encaminhados para a pesquisadora da PUC-Rio em novembro e estão em fase de tabulação. Números preliminares, relativos a creches da primeira até a sexta Coordenadoria Regional de Educação (Crer), revelam que dos 1.579 questionários aplicados pelos professores em 114 creches foram detectados riscos de desenvolvimento atípico em 152 crianças. Considerando apenas as crianças de 12 a 24 meses, foram rastreados 45 casos suspeitos. Os 107 restantes foram de crianças acima desta faixa etária.
— O teste foi usado para capacitar professores, para que possam identificar sinais de risco de autismo. Durante o curso de capacitação, professores disseram que tinham crianças maiores de 24 meses que poderiam ser autistas, pelas características apresentadas. E pediram para aplicar o questionário nelas também — detalha Carolina, observando que as 107 crianças suspeitas apresentaram riscos de desenvolvimento atípico.
Segundo ela, 300 professoras articuladoras das creches municipais participaram de uma capacitação para aplicação do questionário. Elas fizeram um curso de oito horas, no qual receberam orientações sobre o conceito de autismo, a identificação precoce e sobre o próprio questionário. Depois, retornaram para as suas unidades e repassaram os ensinamentos para as demais professoras, usando como apoio um manual e um DVD.
— Há poucas pessoas capacitadas para a identificação precoce. Ouve-se muito falar de pais que percebem algo estranho no filho, levam para o pediatra e eles dizem que não é nada. Com isso, um tempo precioso de intervenção passa... Não é nem culpa deles, é do currículo, que simplesmente não apresenta o autismo.
Acompanhamento integrado
Professora de Educação Especial da UFF, a doutora em psicologia Dayse Serra concorda que a dificuldade de diagnóstico está associada à formação generalista dos pediatras. Ela alerta ainda para a importância do rastreamento de irmãos, quando um caso na família é diagnosticado, por causa do componente genético do transtorno, e enfatiza a necessidade de um acompanhamento integrado, após a detecção do autismo.
— Quando a gente fala de política pública, não estamos falando só de educação, mas de integração. Não adianta o pediatra detectar com nove meses, um ano, e não ter creche para absorver essa criança e interagir com a área de saúde.
Autor do projeto de lei, Messina avalia que o trabalho de diagnóstico precoce vai orientar a educação inclusiva no município:
— Essa ação é essencial para que os pais sejam informados, e a prefeitura consiga entrar com trabalhos de educação e orientação já nas creches e nos postos de saúde, seja pela mão do pediatra, seja pela mão do educador. Temos uma boa chance de pegar todas crianças, pois vamos cercar os dois lados. Em um segundo momento, essas duas parte têm que conversar, trabalhar entre si. As experiências de sucesso ainda são muito tímidas, e há dezenas de milhares de crianças com autismo. Então, são protótipos, que já deveriam ter virado projeto de fato.
Subsecretária de Educação, Helena Bomeny avalia que o rastreamento nos anos iniciais é fundamental, pois amplia as chances de um melhor desenvolvimento da criança. Sobre as dificuldades relatadas por pais de autistas em relação à inclusão na rede regular, destaca:
— A gente tem alunos incluídos. E pretendemos que todos sejam incluídos, mas com qualidade. Essa ação de detecção precoce tem que ser um alerta para a gente ter noção do que está acorrendo dentro da rede. Qualquer tratamento tende a ter um sucesso maior a partir daí.