Abertura ao singular
Silvia Sato[1]
Silvia Sato[1]
A experiência de supervisão numa Ama em Ribeirão Preto, cidade do interior de SP, tem me possibilitado construir um saber na Clínica do Autismo. Começo pela abertura da Instituição, através de alguns de seus profissionais, que demandaram supervisão com um desejo claro de saber sobre o fazer no dia-a-dia com seus alunos. A cada supervisão um encontro com o silencio ou barulho de cada autista através do que é contado pelos profissionais, onde se pode extrair de seus atos algo de seu gozo solitário.
A abertura para a surpresa e a disponibilidade para o inesperado do lado dos profissionais, abre gradativamente para a escuta e leitura de um modo singular do aluno se colocar na relação com o outro na instituição. De modo diferente em cada profissional, seja psicopedagoga, diretora, psicóloga, educador, terapeuta ocupacional, assistente social, algumas situações vão sendo descobertas como presença de um ser que se satisfaz de maneira ímpar.
No
esconder atrás de uma vassoura quando brinca de esconde- esconde; no sorriso
que diz bom dia, enquanto outro profissional por não ler em seu rosto, demanda
e afirma que ele não deu bom dia; no aperto forte da mão do professor nos
momentos em que não quer ir embora da Ama e que se surpreende com o aperto que
o profissional dá de volta, fazendo- o soltar e ir; na introdução dos
dinossauros na história coletiva que fala sobre a chapeuzinho vermelho; na
atenção ao objeto autístico que um aluno carrega consigo em seu tempo na
instituição como meio de apaziguar sua angústia. Entendo que é no "espaço
de um lapso" que algo da criação do autista pode ser recolhido como algo
que diga da forma como vai poder estar no mundo.
O que encontro nessa instituição são crianças, adolescentes e adultos autistas ou não, que convivem numa rotina coletiva, que permite o espaço do um a um. O que escuto nas supervisões me fez supor que são "Autistas educados", já que experimentam um convívio nessa clínica- escola que se contrapõe ao isolamento que encontrávamos em tempos passados. Autistas que sofreram o efeito de estar no coletivo, diante sim de algumas demandas, mas ao mesmo tempo diante de um espaço que tenta permitir a distância necessária a cada um.
O que encontro nessa instituição são crianças, adolescentes e adultos autistas ou não, que convivem numa rotina coletiva, que permite o espaço do um a um. O que escuto nas supervisões me fez supor que são "Autistas educados", já que experimentam um convívio nessa clínica- escola que se contrapõe ao isolamento que encontrávamos em tempos passados. Autistas que sofreram o efeito de estar no coletivo, diante sim de algumas demandas, mas ao mesmo tempo diante de um espaço que tenta permitir a distância necessária a cada um.
Acolhidos
por alguns profissionais que buscam rever seus conceitos e que sustentam uma
prática atravessados pela psicanálise, que prezam pelo modo como cada um
inventa seu estar no mundo, não sem considerar o laço social, mas sem estar
fixado no ideal de educação ou de saúde mental. Apresentando uma
disponibilidade para o novo e uma reconstrução do que é o autismo e do fazer
com cada um.
Entre
uma prática pré- estabelecida e com uma orientação precisa, mas que exclui o
falasser em seu modo singular de satisfação, e com a inclusão da psicanálise
como orientador de uma prática, percebe- se uma tentativa de incluir algo desse
vivo e inventivo que é a apropriação de um autista em seu mundo. Assim,
acompanho profissionais que se agradam em localizar nas referências lacanianas,
possibilidades de construir algum saber que favoreça um fazer que não apague o
sujeito, o falasser. Prática que indica um certo desapego ao diagnostico pois o
acento se encontra na construção do que fazer com o autista, incluindo- o na
rotina da Ama, mas ao mesmo tempo, sem excluí-lo da possibilidade de inventar
como se inserir nessa rotina...
A escolha por oferecer a possibilidade de escolha por parte do autista, parece se sustentar numa escuta que considera além da fala o ato e que ao manter uma distância dentro do convívio, acolhe a defesa de cada um ao se manter afastado dentro do que é a sua medida. Como escutei num relato onde uma menina autista afirma: "Faço parte da escola, mas não faço parte do grupo"
A escolha por oferecer a possibilidade de escolha por parte do autista, parece se sustentar numa escuta que considera além da fala o ato e que ao manter uma distância dentro do convívio, acolhe a defesa de cada um ao se manter afastado dentro do que é a sua medida. Como escutei num relato onde uma menina autista afirma: "Faço parte da escola, mas não faço parte do grupo"
Acolher
a distância necessária a cada um e a forma de inserção possível a cada um considera
que assim como as mulheres, o autista não faz grupo, mas sim nos apresenta o
ápice do um a um. Assim, penso a clinica do autismo como o ápice da
singularidade, onde o laço possível com o Outro e o uso da linguagem permite
numa apropriação singular um colocar- se no mundo a seu modo, com seu gozo que
dificulta o laço social e com o qual se pode inventar ou talvez no caso do
autismo caiba melhor dizer, criar uma maneira de fazer.
Essa
experiência tem me feito pensar que a psicanálise nos coloca a questão de como
o autista pode se colocar menos defendido no mundo, na medida em que com o
outro vai criando um "menos no real"[2]
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