É evidente que o parceiro fundamental do sujeito jamais é o Outro. Não é o Outro como pessoa nem como lugar da verdade. Ao contrário, o parceiro do sujeito, o que a psicanálise sempre percebeu, é algo dele próprio: sua imagem - a teoria do narcisismo retomada por Lacan em "O Estádio do espelho" - seu objeto a, seu mais-de-gozar e, fundamentalmente, seu sintoma. Eis esboçada a Teoria do Parceiro.Jacques-Alain Miller, A Teoria do Parceiro.
No tempo das etiquetas, em que tudo se transforma em "hiperatividade" ou "autismo", a perspectiva psicanalítica do real do sintoma restitui ao ser falante a possibilidade de encontrar uma solução singular para seus impasses com o trauma da linguagem.
O encontro de Freud com o menino Hans é o ponto de partida do argumento de Daniel Roy, na bibliografia sugerida para a Première Journée de la Fédération des Instituitions de Psychanalyse Appliquée (FIPA), que será realizada em Bordeaux, em 12 de março, com o tema "Problemas atuais da psicanálise aplicada".
Para além da determinação do sintoma da criança pelos impasses do desejo parental, Roy aponta a solução elaborada por Hans e a existência de uma língua em comum que circula entre a criança e os pais, tal como sublinha Freud, a partir das notas do pai de Hans, e Lacan, quando enfatiza a dimensão de lalange, em seu último ensino. "Nós não sabemos nada preliminarmente do peso do gozo contido para cada um nestes significantes" - diz Roy - "nem a proporção de desejo que é ali investido", prossegue ele. Que o ser falante, um a um, encontre seu modo de tratamento do real, para torná-lo suportável - é a aposta da psicanálise de orientação lacaniana.
Eixo temático desta bibliografia, "Os pais, parceiros da experiência" é também um dos temas que surgem em nosso Seminário. Apresentado por Wagner em dezembro, o caso Gabriel nos ensinou que o trabalho com este jovem somente prossegue porque ele pode contar com vários parceiros: o autista, a família, as equipes do CAPS e da Clínica da Família, e as pessoas do território por onde transita.
Mas o que é um parceiro? Em nosso primeiro encontro de 2016, prosseguiremos na leitura comentada do caso Robert, de Rosine e Robert Lefort, visando a distinção do autismo.
E na segunda parte do Seminário, orientados pela Teoria do Parceiro, de Miller (Quarto, 77. 2002) nós nos deteremos nesta questão do trabalho com os pais, como parceiros, a partir de textos indicados por Roy: (1) Préliminaire, 13. 2001 - em que escolhemos: Rouillon, J-P. "Le travaile avec les parents: de la fonction de résidu à la surprise"; (2) Baio, V. "La demande des parents". La Petite Girafe, 20. Décembre, 2004; e (3) Grasser, Y. "L'événementiel lacanien". La Petite Girafe, 28. Octobre, 2008.
Neste encontro de fevereiro, articularemos estes textos com casos clínicos e comentários de: (a) Bonnaud, H. "L'inconscient de l'enfant". Paris: Navarin/Le Champ Freudien. 2013; e (b) Deltombe, H. "Lorsque l'enfant questionne". Paris: Éditions Michèle. 2013; que também constam na lista de Roy. Lacadée e Leclerc-Razvet serão abordados em março.
Com estes ricos textos, iniciaremos nosso terceiro ano de trabalho!
Coordenação: Ana Martha Maia (EBP/AMP).
Colaboradora: Bruna Brito.
Comissão de Tradução : Ana Martha Maia, Anna Carolina Nogueira, Astrea Gama e Silva, Bruna Brito, Luiza Sarrat Rangel, Maria Elizabeth Araújo e Marina Valle.
Data: 27 fevereiro, 12 março, 9 abril, 7 maio, 4 junho e 2 junho. Sábados, 10h.
Local: Sede da EBP-Rio. Rua Capistrano de Abreu, 14. Humaitá.
Informações: anamarthamaia@gmail.com
*Aos inscritos que ainda não receberam, solicitar as traduções por email.
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