Jean-Claude Maleval
Impor uma ciência totalizante ao autismo a quem conhece os limites e as incertezas deste campo é a ambição de M. Fasquelle e alguns deputados, Os Republicanos, a favor de um projeto de resolução registrado na Assembleia Nacional. De onde extraem uma ciência pronta sobre o autismo? Ela advém de recomendações de 2012 elaboradas pela mais Alta Autoridade de Saúde (HAS). Ora, os deputados fazem muitos desvios destes pontos. As recomendações da Alta Autoridade em Saúde tentam auxiliar os clínicos em suas decisões e a preservar o bom discernimento dos mesmos. Ao transformarem estas recomendações em injunções, os deputados querem ditar aos profissionais o que devem fazer e pensar, privando-os da responsabilidade de seus atos e da necessária adaptação destes à singularidade do paciente. Pelo prejuízo à liberdade de prescrição, milhares de médicos reagiram rapidamente, enquanto que os psicólogos e psiquiatras dos hospitais denunciaram o perigo que corre a liberdade acadêmica, inseparável de toda elaboração e difusão dos conhecimentos científicos. No que concerne ao tratamento dos autistas, os deputados, que certamente não leram as 465 páginas do argumento científico da HAS, acreditam, ingenuamente, que os 3 métodos recomendados são cientificamente válidos. Ora, não são deforma alguma! Eles são recomendados por falta de coisa melhor. Na meta-análise, foi regularmente constatado que mais de 50% das crianças não melhoram. Os trabalhos posteriores a 2012 confirmam que as melhoras da cognição e dos comportamentos do método ABA (dos 3, o mais considerado) são “moderados”, enquanto que, aquelas obtidas através da adaptação social e do ponto central dos distúrbios autísticos são “fracos”. Isto corrobora uma expertise realizada em 28 estruturas experimentais francesas, que dispunham de condições muito favoráveis para dar curso ao método ABA, graças a financiamentos e a um alto nível de enquadramento geral. Depois de 4 anos de tratamento, 19 crianças em 578 conseguiram ter acesso a um “espaço comum”. A taxa de sucesso é em torno de 3%, o que confirma um consenso na literatura científica atual: os resultados do método ABA concernentes à “adaptação social” são “fracos”. A equivalente à HAS inglesa, a NICE, prega, desde 2013, intervenções psicossociais multidisciplinares no tratamento do autismo e não faz mais nenhuma menção ao método ABA. Acreditando não dispor de elementos suficientes para tomar uma posição, por não poder considerar os estudos de caso como documentos-provas, a HAS classifica a psicanálise e a psicoterapia institucional entre os “métodos não consensuais” no tratamento dos autistas. Escutando apenas sua própria vontade, os deputados passam por cima dos detalhes de forma abusiva incluindo-os na lista dos “não recomendáveis”. Um estudo do INSERM de 2014 mostra a eficácia dos tratamentos psicodinâmicos, podendo levar a HAS a modificar sua posição a respeito. Uma petição foi assinada por numerosas personalidades que rapidamente alcançou milhares de assinaturas, para que profissionais orientados pela psicanálise possam continuar sendo integrados à oferta de tratamento para autistas. Antes de “nos empenharmos sistematicamente sobre a responsabilidade penal dos profissionais de saúde que se opõem aos avanços científicos”, nós não deveríamos examinar a responsabilidade política dos deputados mal informados que procuram resoluções liberticidas?
Tradução: Rachel Amin
Revisão: Bartyra Ribeiro de Castro
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