Dizem que eles não falam, isto não é sempre verdade mas, em
todo caso, eles se isolam, se retiram do mundo e, deste modo, colocam em xeque a vontade do Outro que fala com eles,
que os invade. No entanto, um encontro é
possível quando nos colocamos em sintonia com suas construções pessoais e
singulares, quando dizemos sim a seu uso do objeto, que já tem uma função apaziguadora com relação à angústia. A
psicanálise lacaniana que orienta as curas, assim como muitas práticas em instituições,
nos dá as ferramentas para resistirmos a
entrar nesta máquina de formatar o sujeito e sustentá-lo na elaboração de suas
próprias soluções. No horizonte,
nenhuma harmonia com o Outro, mas
a via do sinthoma para todos, que permite alojar o que cada Um
tem de mais íntimo.
Nossa Grande Jornada de Estudo de 28 de fevereiro é uma resposta a estes “estudos”
pseudo-científicos que fazem estragos, como aquele do Conseil Supérieur de la Santé, há um ano, e agora aquele do KCE (Centre fédéral d’Expertise des Soins de
Santé). A psicanálise, assim como as práticas institucionais que dela derivam, seriam ineficazes
para tratar dos transtornos do espectro autista! É o reino dos especialistas referenciados
na literatura dita científica e internacional, surdos aos testemunhos dos
praticantes, portanto, tão numerosos para quem quer lê-los e ouvi-los. Eles
jogam o descrédito sobre o trabalho inventivo e vivo que se pratica, incansavelmente, há cinquenta
anos, com sujeitos autistas e suas
famílias. Há, de fato, alguma coisa que não funciona e não entra na máquina de
re-educar, porque o sinthoma autístico,
como todo sinthoma, não quer se curar.
De nosso lado, extraímos a lição do sintoma, entramos no seu
passo, para construi-lo, para que ele abra uma
via para o mundo do outro, para um laço social apaziguado, sem renunciar àquilo
que faz o sujeito distinto de qualquer
outro. A aposta deste trabalho é produzir uma perda no impasse do gozo
autístico – já que este impasse é voraz
-, mas não sem o consentimento do sujeito. Ajustando-nos como parceiros de sua
construção, interessando-nos por seu objeto escolhido, nos fazendo de seu
duplo, nós tentamos localizar sobre uma borda uma zona do entre-dois onde um
espaço para o não-diálogo
(pas-de-dialogue) possa enfim se abrir.
Se nós trabalhamos com estes objetos tão particulares – um tambor que gira, um carrinho, um
fio de saliva, um gato de
pelúcia - nós mesmos que vivemos aparelhados com nossos
tablets ou smartphones - é que o fio do laço passa por aí. E tecemos este laço
sem descanso!
Então, na condição de levar em conta isto que o sujeito
articula, « uma pequena
conversação” se torna possível e “há, certamente, algo a lhes dizer”[1].
Então, as aprendizagens se tornam possíveis, orientadas pela ilha de
competências do sujeito, sua “obsessão”, colocada a trabalho. Então, o sujeito
autista pode dar corpo a seu sinthoma’ que lhe servirá durante toda a sua vida para tomar um lugar no laço social. O ganho para o sujeito e
sua família não é calculável, mas não é menos
real. Ganho inestimável! O objetivo desta jornada é, portanto, expor nossos
resultados – Autismo e psicanálise: resultados. – Daniel Pasqualin
Sábado 28 de fevereiro
de 2015
De 9h00 a 16h30
No Square Meeting Centre
Mont des Arts – 1000 Bruselas
Inscrição mediante
transferência de 40 euros
Conta da ACF Belgique
IBAN: BE90 0680 9297 5032 – BIC : GKCC BE BB
Identificar: nome e e-mail dos inscritos
[1] Lacan, J. (1998[1975]). “Conferência em
Genebra sobre o sintoma”. In Opção Lacaniana – Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, (23).