terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Autismo e psicanálise: resultados


 Há sujeitos, autistas, que  resistem a entrar na grande máquina da reeducação  e das  aprendizagens forçadas. É um  fato. Frequentemente, eles já têm sua própria máquina escolhida, o seu  objeto insólito para tratar o barulho da língua neles; para tratar suas angústias do encontro.

Dizem que eles não falam, isto não é sempre verdade mas, em todo caso, eles se isolam, se retiram do mundo e, deste modo, colocam em xeque a vontade do Outro que fala com eles, que os invade. No entanto, um  encontro é possível quando nos colocamos em sintonia com suas construções pessoais e singulares, quando dizemos sim a seu uso do objeto, que já tem uma função  apaziguadora com relação à angústia. A psicanálise lacaniana que orienta as curas, assim como muitas práticas em instituições, nos dá as ferramentas  para resistirmos a entrar nesta máquina de formatar o sujeito e sustentá-lo na elaboração de suas próprias  soluções.  No horizonte,  nenhuma harmonia  com o Outro, mas a via do sinthoma para todos, que permite alojar o que cada Um tem de mais íntimo.

Nossa Grande Jornada de Estudo  de 28 de fevereiro  é uma resposta a estes “estudos” pseudo-científicos que fazem estragos, como aquele do Conseil Supérieur de la Santé, há um ano, e agora aquele do KCE (Centre fédéral d’Expertise des Soins de Santé). A psicanálise, assim como as práticas  institucionais que dela derivam, seriam ineficazes para tratar dos transtornos do espectro autista! É o reino dos especialistas referenciados na literatura dita científica e internacional, surdos aos testemunhos dos praticantes, portanto, tão numerosos para quem quer lê-los e ouvi-los. Eles jogam o descrédito sobre o trabalho  inventivo  e vivo que se pratica, incansavelmente, há cinquenta anos, com sujeitos  autistas e suas famílias. Há, de fato, alguma coisa que não funciona e não entra na máquina de re-educar, porque o sinthoma  autístico, como todo sinthoma, não quer se curar.

De nosso lado, extraímos a lição do sintoma, entramos no seu passo, para construi-lo, para que ele abra uma via para o mundo do outro, para um laço social apaziguado, sem renunciar àquilo que faz o sujeito distinto de qualquer  outro. A aposta deste trabalho é produzir uma perda no impasse do gozo autístico – já  que este impasse é voraz -, mas não sem o consentimento do sujeito. Ajustando-nos como parceiros de sua construção, interessando-nos por seu objeto escolhido, nos fazendo de seu duplo, nós tentamos localizar sobre uma borda uma zona do entre-dois onde um espaço para o não-diálogo (pas-de-dialogue) possa enfim se abrir. Se nós trabalhamos com estes objetos tão particulares – um  tambor que gira, um  carrinho, um  fio de saliva, um  gato de pelúcia  -  nós mesmos que vivemos aparelhados com nossos tablets ou smartphones - é que o fio do laço passa por aí. E tecemos este laço sem descanso!

Então, na condição de levar em conta isto que o sujeito articula, « uma  pequena conversação” se torna possível e “há, certamente, algo a lhes dizer”[1]. Então, as aprendizagens se tornam possíveis, orientadas pela ilha de competências do sujeito, sua “obsessão”, colocada a trabalho. Então, o sujeito autista pode dar corpo a seu sinthoma’ que lhe servirá durante toda  a sua vida para tomar um  lugar no laço social. O ganho para o sujeito e sua família não é calculável,  mas não é menos real. Ganho inestimável! O objetivo desta jornada é, portanto, expor nossos resultados – Autismo e psicanálise: resultados. – Daniel Pasqualin

Sábado 28 de fevereiro  de 2015
De 9h00 a 16h30
No Square Meeting Centre
Mont des Arts – 1000 Bruselas
Inscrição  mediante transferência  de 40 euros
Conta da ACF Belgique
IBAN: BE90 0680 9297 5032 – BIC : GKCC BE BB
Identificar: nome e e-mail dos inscritos
Informação  acfbelgique@gmail.com




[1] Lacan, J. (1998[1975]). Conferência em Genebra sobre o sintoma. In Opção Lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, (23).

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